“Todo mundo com arma na cintura? Vai virar bang-bang!”

Quem nunca ouviu essa exclamação, ou algo semelhante, quando se fala em liberar ou tornar menos rígidas as exigências para posse e o porte de armas? Acredito que todos nós, eu então, perdi a conta. Sempre que citamos o “bang-bang”, expressão que remete ao Velho Oeste ou ainda, faroeste, um aportuguesamento da expressão inglesa “far west”, nossa mente é invariavelmente invadida por cenas clássicas de filmes sobre o período chamado de Oeste Selvagem onde cowboys e bandidos trocavam tiros em duelos com a corriqueiridade que se trocam bom dias em pequenas cidades do interior do Brasil. Nada mais falso, aliás, duplamente falso!

Primeiramente o anárquico e selvagem oeste retratado por Hollywood não tinha nada de anárquico e muito pouco de selvagem. Se os produtores fossem retratá-lo com fidelidade, seriam filmes bastante monótonos uma vez que tiroteios eram eventos raros. Em toda colonização do Oeste, a mais violenta cidade, em todos os anos, nunca apresentou mais do que 5 assassinatos e nem todos eram cometidos com o uso de armas de fogo. Há um excelente livro escrito por Terry Lee Anderson e Peter Jensen Hill que retrata com fidelidade o período e é fruto de 30 anos de estudos do tema pelos autores. O título, em inglês, é “The Not So Wild, Wild West: Property Rights on the Frontier”, algo como O Não Tão Selvagem Oeste: Direitos de propriedade na Fronteira”. Dos mesmos autores há um excelente artigo publicado em português no site do Instituto Mises.

Em resumo, as cidades dos bang-bang tinham em média 1,5 homicídios por 100 mil habitantes, Altamira, a cidade mais violenta do Brasil tem a inacreditável taxa de 107 homicídios por 100 mil habitantes e nossa média nacional é de 30. Quem nos dera nos transformássemos no Velho Oeste!

“A guerra deve acontecer, enquanto estivermos defendendo nossas vidas contra um destruidor que poderia devorar tudo; mas não amo a espada brilhante por sua agudeza, nem a flecha por sua rapidez, nem o guerreiro por sua glória. Só amo aquilo que eles defendem”. J. R. R. Tolkien

O segundo ponto é que o Brasil já foi, até pouco tempo atrás, um país onde a posse de armas era corriqueira e o porte de armas bastante habitual. Até 1997 o porte ilegal não era sequer crime. Era uma reles contravenção penal, tal qual o Jogo do bicho. Até a década de 80 com milhões de armas circulando e a sua venda sendo feita até em lojas de departamento como a Sears e Mesbla  tínhamos uma média de homicídios semelhante aos EUA. Nós enveredamos pelas restrições, eles foram pelo caminho inverso, liberando cada vez mais a posse e em especial o porte de armas. Nós chegamos em 2017 com taxa de 30 homicídios por 100 mil habitantes e eles desceram para uma taxa 5 vezes menor que a brasileira…

Fora tudo isso, não há nenhuma proposta que simplesmente libere a posse e porte de armas! A ideia, plantada em grande parte pela própria imprensa, é que será um oba-oba, um liberou geral, um salve-se quem puder. Nada disso! A proposta hora em discussão – Projeto 3.722 – continua com restrições, é uma proposta série e comedida, até muito comedida para alguns. Não, não haverá bang-bang, ninguém vai simplesmente colocar uma arma na cintura e sair por aí e quem afirma o contrário não conhece nem o passado, nem o presente, muito menos o que está sendo proposto. O que ocorrerá é simplesmente a volta a um tempo onde o cidadão tinha equiparação de força com os criminosos, onde o cidadão armado era respeitado em sua escolha de não terceirizar a defesa daquilo que lhe é mais valioso. Não, não luto pelo armamento, luto pelo direito de defender aquilo que amo.

Bene Barbosa é especialista em segurança, escritor, presidente do Movimento Viva Brasil, palestrante, autor do best-seller Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento e instrutor convidado do Curso Básico de Armamento e Tiro do Projeto Policial.

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