Na 43ª edição do programa Ocupação, o Itaú Cultural, em São Paulo, apresenta a vida e a obra do cuiabano Manoel de Barros. Falecido em 2014 e com uma obra que transcende territórios e lugares, a exposição apresenta uma criteriosa seleção do acervo pessoal do poeta e uma ambientação que remete às simbologias presentes na obra do homenageado.

Com algumas limitações físicas, porém com belas soluções, a expografia da mostra não possui cantos vivos e as curvas presentes nos remetem a um dos textos do poeta sobre uma cobra lendária que habita os limites de uma das casas do escritor, e deste modo as voltas do corpo do réptil estão presentes nos espaços resultantes, criando um percurso quase circular.

As cores do ambiente, criadas a partir da colagem de papéis reciclados nas paredes, nos remetem ao ambiente cromático do Pantanal, os laranjas e amarelos do por do sol e do nascer do sol, a luz lilás da noite e o azul do céu.

Com utilização de projeção em grande formato, e outras formas de interação, como minilivros que reproduzem textos manuscritos do poeta, a exposição ainda apresenta cadernos de anotações, processos de transformação de poemas, trocas de correspondências, fotos do escritor, de sua esposa e filhos, várias edições de seus livros para consulta, fones de ouvidos com recitações de seus poemas em gravações com a voz do próprio autor e algumas imagens em vídeo registradas com o tímido homenageado, que preferia responder por escrito ao invés de ser entrevistado “in loco”.

A presença da família se destaca pelas telas expostas de autoria de sua filha Martha Barros, e que foram utilizadas em várias capas dos livros do pai, assim como um singelo desenho de seu filho João e título escrito pela ainda menina Martha, também capa de um dos livros publicados, finalizando pela emotiva carta de seu outro filho que teve a incumbência de “avaliar” textos do pai, e que embora diga não ser um crítico literário, afirma ser ele o maior poeta do Brasil.

Como uma regra, o Itaú Cultural investe de forma efetiva em acessibilidade, com piso tátil, textos em braile, áudio descrição, diversos monitores com imagens na linguagem dos sinais (libras) e uma novidade incrível: um pequeno aparelho que fixado junto à haste de um óculos permite a leitura de qualquer texto, que é reproduzido por som junto ao ouvido do usuário, o que torna a leitura um ato sem limites físicos, dentro do campo da tecnologia assistiva, que amplia a autonomia do visitante com limitações visuais.

Além das palavras, a exposição apresenta alguns desenhos do próprio Manoel de Barros, que são gotas singelas e lúdicas de seu universo, e que destacam num traço único as imagens que vamos construindo ao longo da visita. Destaco o desenho de um caramujo (também presente na capa do lindo catálogo produzido para a mostra) onde as antenas do “bichinho” estão na concha e não na cabeça onde seria o usual, mas, é o caramujo de um poeta.

A exposição que tem concepção, realização e curadoria do Itaú Cultural e equipe, com consultoria de Martha Barros (filha de Manoel de Barros) e Regina Ferraz, e o projeto expográfico de autoria de Adriana Yazbek, merece todos os olhares atentos e ouvidos abertos para o desenho e o som das palavras de Manoel de Barros……”Aí vão as respostas. Se não servirem, cesta nelas¹.”

1. De Manuel de Barros para Alexandre Martins e João Dommenech | sem data; in catálogo ocupação Manoel de Barros, Itaú Cultural, 2019.

* Jeff Keese é arquiteto e urbanista formado pela FAU USP, produtor cultural e expógrafo, fez a coordenação de produção e montagens das quatro primeiras edições (2005 a 2013) do Prêmio CNI SESI Marcantonio Villaça que esteve em Cuiabá em 2012. Junto com Magna Domingos e Gervane de Paula realizou em 2015 a exposição comemorativa “Dalva de Barros: 80 anos” além de ter ministrado workshop e curso sobre expografia e curadoria em Cuiabá

Serviço:

Ocupação Manoel de Barros
Visitação de 14 de fevereiro a 7 de abril de 2019
De terça a sexta-feira, das 9h às 20h [permanência até as 20h30]
Já aos sábados, domingo e feriado fica aberta das 11h às 20h
Piso térreo
Entrada gratuita
[livre para todos os públicos]

O Itaú Cultura, fica em São Paulo, na avenida Paulista, 149 

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