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Sesc MT quer transformar Arsenal em “grande shopping” para público comerciário

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Sesc MT quer transformar Arsenal em “grande shopping” para público comerciário
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

O Sesc Arsenal, centro cultural que concentra grande parte da programação artística de Cuiabá e, especialmente, a oferta de atividades gratuitas e alternativas ao circuito comercial, vem passando por mudanças. Mudanças que devem transformá-lo em um “grande shopping cultural”.

A diretoria do Sesc Mato Grosso afirma estar equilibrando demandas nas diferentes áreas de atuação da instituição e pretende focar cada vez mais em seu público “essencial”: o trabalhador comerciário. Isso significa, na prática, priorizar serviços e atividades voltadas a famílias, além de unificar unidades e equipes.

“Eventualmente, você direciona um pouquinho mais para um lado e outro, com um objetivo maior. Com relação não só a Cultura, mas todos os nossos pilares programáticos – Educação, Lazer, Assistência e Saúde – nós estamos revendo tudo. Rever não é mudar o programa ou as ações estratégicas, mas revisitar o esforço que está sendo feito nessas áreas”, afirma o diretor do Sesc MT, Carlos Alberto Rissato.

Vale ressaltar, o Sesc Arsenal é voltado ao programa Cultura e é também uma dentre as 13 unidades do Serviço Social do Comércio de Mato Grosso (Sesc MT), que se adequam à nova gestão regional da instituição patronal, mantida por arrecadação de empresários do comércio via governo federal.

Espaço do Artesão no Sesc Arsenal, 2019 (Foto: divulgação)

Casa do Artesão se torna “espaço do artesão”

No início do ano, o Sesc Arsenal cedeu o salão social – espaço utilizado por diversas linguagens artísticas, principalmente pelo teatro e a dança – para a loja da unidade Sesc Casa do Artesão, que agora é “espaço do artesão”. Diante da medida, a hashtag #ripsalãosocial – uma expressão para sinalizar “descanse em paz” – chegou a aparecer nas redes sociais de usuários, em uma crítica à fusão.

“O que levou a unificar essas unidades foi a necessidade de otimizar serviços e oferecer mais, de forma efetiva. Ao invés de ter uma ou outra lojinha isolada, eu passo a ter um grande shopping que oferece todo tipo de acesso para a minha população. Continuo a atender a cultura em todos os níveis, mas incluindo esporte e lazer dentro do próprio arsenal”, afirma Rissato.

O Arsenal, geralmente ocupado por atividades de formação artísticas e manifestações da cultura contemporânea e popular, vem dando lugar a serviços de lazer e esporte, como yoga e zumba, por exemplo. A programação pode ser acompanhada semanalmente.

Balneário em Juscimeira foi fechado

Assim como a Casa do Artesão, a unidade de Juscimeira, balneário de águas termais, foi fechada (veja comunicado). A direção, no entanto, nega redução na equipe de profissionais e diz que busca investir em ações itinerantes. “Por que eu reduziria a equipe se as atividades vão aumentar? Isso jamais aconteceu. O que a gente fez foi otimizar oportunidades que já existiam”.

Para justificar tais prioridades, que, conforme o diretor, se adequam a uma demanda regional, ele ressalta o objetivo da instituição. “Nossa missão é levar cidadania a população comerciária, funcionários e dependentes do comércio. E, se possível, para o público geral. É disso que a gente está tratando, do dinheiro que sai do comércio e tem que voltar para ele”, afirma Rissato.

Choperia agora é cafeteria

As mudanças de foco das atividades ofertadas no Sesc Arsenal e na extinta Casa do Artesão vêm sendo percebidas gradualmente. Conhecida por formar grande parte dos artistas e arte-educadores no Estado, a unidade agora passa a oferecer cursos mais “básicos”.

Mas um dos principais espaços que já refletem as novas prioridades da direção é a “choperia”, que agora passa a fechar mais cedo (antes, à meia-noite e, agora, às 22h) e oferecer café da manhã.

“Choperia é algo que nós retiramos do dicionário. Isso é social? A missão do Sesc, dentro do pilar da Saúde, é trabalhar a alimentação, que é onde se encaixa essa área da unidade. Ela é uma área de alimentação, onde vamos passar a servir almoço executivo rápido e uma oportunidade de happy hour sim”.

Conhecido pelos preços acessíveis, no novo cardápio aparecerem também novos valores. De acordo com o diretor, essa revisão foi feita porque há muito tempo não havia atualização dos preços.

“Além disso, eu atendo o público geral nesse espaço, não tenho uma diferenciação para o usuário. Eu estava tirando o dinheiro do empresário do comércio para atender o funcionário dele e eu não estava conseguindo fazer isso. Mas continuamos com o preço abaixo do mercado”, afirma.

Novo restaurante

Ao mesmo tempo, os recursos destinados à alimentação foram direcionados a um restaurante para os comerciários, com inauguração prevista para maio.

“Cuiabá nunca teve um restaurante popular acessível ou exclusivo ao comerciário. Ele deve ser inaugurado onde a Casa do Artesão ficou por alguns meses [na Tenente Coronel Duarte, quase em frente ao Shopping Popular]. A meta é servir de 700 a 1 mil refeições dia, de segunda a sábado, em um buffet a quilo, que deve custar em torno de R$ 12 a R$ 14”.

Ministro de governo Bolsonaro chegou a dizer que é preciso “meter a faca” no Sistema S (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Recursos ameaçados

Organizações como o Sesc, Senac, Senai e Sebrae são entidades privadas que se mantém com recursos arrecadados via governo federal, por meio de contribuições, estipuladas por lei, sobre o valor da folha de pagamento das empresas. “Não existe recurso de governo dentro do Sesc, isso tem que ser desmistificado. Todo ele vem do empresário do comércio ligado a bens, serviços e turismo, que trafega pela área federal”.

Em dezembro de 2018, o ministro da Fazenda do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, chegou a dizer que é preciso “meter a faca” no Sistema S, durante evento com empresários na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro. Sobre o impacto desse corte no Sesc Mato Grosso, Carlos Alberto Rissato diz que a possibilidade ainda é remota.

“O que está escrito nas entrelinhas é uma proposta de desoneração da folha de pagamento, em uma revisão desses percentuais de contribuição. Isso é uma possibilidade remota, ninguém fez a conta ainda”, diz o diretor do Sesc Mato Grosso. À ocasião, Paulo Guedes informou um corte de 30%, se houver diálogo, podendo chegar a 50% dos recursos.

Rissato admite que a proposta pode reduzir o montante destinado às ações sociais da instituição, como o programa Cultura, sem impactar o empresariado. No entanto, não acredita que a proposta será levada à frente. “Se eventualmente acontecer, vamos ter que revisar uma série de operações internas nossas, vamos ter que ser mais efetivos ainda para continuar atendendo a população mais necessitada”.

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