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Santa Casa: auditoria da CGE encontra nepotismo, supersalários e ingerência financeira

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Santa Casa: auditoria da CGE encontra nepotismo, supersalários e ingerência financeira
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Um relatório de auditoria elaborado pela Controladoria Geral do Estado (CGE), entregue na tarde dessa segunda-feira (11), ao Ministério Público do Estado (MPE) e à Delegacia Fazendária (Defaz), aponta diversas irregularidades na administração da Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá.

O documento começou a ser preparado no mês de setembro de 2018, depois que a unidade recebeu um “socorro financeiro” de R$ 6 milhões do Governo do Estado e da Prefeitura de Cuiabá.

Há pelo menos um ano os funcionários da Santa Casa viram uma grave crise financeira se instalar na unidade. O ex-presidente do filantrópico, o médico Antônio Preza, questionado diversas vezes, comentava à imprensa que dificuldades sempre existiram. No ano passado, porém, a situação chegou ao ponto de o atraso nos salários se acumular por até cinco meses, prejudicando os prestadores de serviço.

Para tentar amenizar a situação, uma conciliação na Justiça, firmada no final de agosto, resultou no repasse financeiro. Desde então, a CGE buscou analisar documentações e fazer oitivas com funcionários e gestores. Conforme o relatório, a administração da unidade médica não impôs restrição e forneceu integralmente as documentações solicitadas.

Relatório

Conforme o documento ao qual o LIVRE teve acesso, os auditores da CGE apontam que a Santa Casa enfrentou uma gestão temerária nos últimos quatro anos, isto é, houve falta de cautela por parte dos administradores com as finanças do espaço.

Dentre as situações apontadas, os auditores citaram situação de nepotismo dentro da entidade filantrópica, sendo que, na folha de pagamento, constam pelo menos seis pessoas ligadas ou ao ex-presidente da Santa Casa ou a outro membro da diretoria. Em alguns casos, essas pessoas receberiam salários de até R$ 12,2 mil.

[featured_paragraph]“Vale ressaltar que o salário médio pago pela Santa Casa é de R$ 2,121,73, ou seja, os citados parentes do presidente receberam valores bem superiores ao comumente praticado”, diz trecho. [/featured_paragraph]

Os auditores observam que o nepotismo não é vedado a empresas que não são públicas, mas que “há um desrespeito à impessoalidade e que tal fato pode acarretar em falhas na administração”, dizem, em outra parte.

Ainda com base na análise da folha de pagamento, a equipe encontrou oito funcionários que atuam sem qualquer registro trabalhista – carteira assinada ou contrato de prestação de serviço. Já ao analisar o lotacionograma, foi pontuado que, hoje, a Santa Casa atua com excesso de colaboradores na área-meio.

Execução financeira

Apesar de terem acesso ao valor total repassado pela Secretaria de Saúde do município, a equipe não encontrou detalhamento dos repasses. No entanto, com base nas análises da execução financeira da Santa Casa, pontuou que o filantrópico teria contratado empresas prestadoras de serviço de forma irregular. Isso porque não é feito processo licitatório – o que seria vantajoso para o hospital – e nem tabela fixa de valores pelos serviços. Assim, as empresas estariam recebendo montantes diferentes pelo mesmo serviço prestado.

[featured_paragraph]Consta no relatório também que, em algumas situações, foi verificado que as empresas contratadas estariam cobrando por consultas particulares feitas nas dependências da unidade.[/featured_paragraph]

Pagamento de notas fiscais emitidas por empresas e prestadores de serviço também não era acompanhado pela equipe financeira, segundo o relatório, porque cada setor deveria apenas enviar as notas. “Tal ausência de confirmação pode acarretar em prejuízos à Santa Casa, visto que poderia haver pagamentos por serviços não prestados ou mercadorias não entregues”, diz trecho.

A exemplo, o relatório observou que foi pago R$ 2,5 milhões por um aparelho de ressonância magnética, em dezembro de 2017, que nunca chegou à unidade. Sobre o mesmo equipamento, o relatório apontou que o valor pago teria sido 114% acima do que é cobrado no mercado.

Saída da presidência

O relatório de auditoria foi assinado como concluso no dia 1º de fevereiro deste ano, quatro dias depois que o ex-presidente Antônio Preza renunciou ao cargo. Fontes ligadas à Santa Casa especulam que a saída do gestor possa estar ligada com o resultado final dos trabalhos da Controladoria Geral do Estado.

Apesar da mudança de gestão, o documento foi encaminhado à Secretaria de Estado de Saúde, Prefeitura de Cuiabá, Controladoria Geral da União, e ao Ministério Público do Estado (MPE).

Outro lado

O LIVRE procurou a Santa Casa de Cuiabá, por meio da assessoria de marketing, para saber a respeito dos dados apontados no relatório da CGE. No entanto, foi informado que a direção ainda não recebeu o documento. Por isso, um posicionamento mais claro apenas deve ser repassado nos próximos dias, quando a equipe tiver ciência do assunto. O LIVRE segue com espaço aberto ao hospital filantrópico.

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