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Reeducandas encontram no artesanato esperança para um futuro melhor

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Reeducandas encontram no artesanato esperança para um futuro melhor

Existem dois tipos de pessoas: as que aproveitam as oportunidades para evoluir e as que ficam estagnadas diante das chances de mudanças. Ruth Cecília dos Santos, 40, reclusa há um ano, se encaixa no primeiro tipo. Disposta a interromper o círculo vicioso da criminalidade, ela entrou para o grupo de artesanato da unidade prisional de Nortelândia e encontrou na arte a esperança para um futuro melhor.

“Agora, eu sou artista e não apenas reeducanda, e isso me faz querer mudar de vida. Penso que lá fora a arte pode servir como distração e profissão para garantir minha renda”, acredita Ruth, que é uma das seis reeducandas da unidade que participam do projeto de ressocialização ‘Integra’ e no pequeno ateliê montado na unidade faz pinturas em telhas, em telas e aplicações em imagens sacras.

Quem também fica feliz em ver as internas descobrindo uma alternativa positiva de vida e empenhadas em transformar-se são os familiares, como conta a recuperanda Cleonice Beserra, 24 anos. “Eu pinto e estudo e isso deixa minha família contente, porque não estou aqui parada, estou evoluindo”, diz a jovem, reclusa há dois anos.

Cleonice e Ruth participam do projeto há um ano e a avaliação que fazem é que se sentem mais valorizadas, pois juntas às demais integrantes do projeto recebem elogios pelo trabalho. “As pessoas admiram nossos traços, as cores que usamos, a arte como um todo e isso mostra pra sociedade que é possível a gente fazer algo legal”, explica Cleonice.

O material produzido pelas recuperandas é exposto em eventos fora da unidade prisional, como em espaços públicos, feiras e exposições, como forma de divulgar a atividade e ajudar na ressocialização das reeducandas. A renda com a venda do artesanato é revertida na compra de mais materiais e uma parte vai para as alunas. A apresentação do artesanato é feita pelas próprias internas que são selecionadas para acompanhar a exposição junto de agentes penitenciários.

Competição do bem

Cleusa Maria Fardim é agente penitenciária, artesã e idealizadora do trabalho. Ela ministra aula de artesanato desde que entrou para o Sistema Penitenciário, em 2002, e está a frente desse trabalho em Nortelândia há quase três anos. A professora lembra que, assim que iniciou o projeto, o perfil das reeducandas era outro, pois não tinham muito expectativa de vida. Cleusa conta que agora, o comportamento delas é diferente, estão mais tranquilas, felizes e com a autoestima elevada.

“Isso se deve à arte, porque criar propicia transformação e por algumas horas elas ‘saem’ do ambiente em que estão e imergem no universo imaginário artístico”, acrescenta.

Com essa nova fase de criação e entusiasmo das alunas veio também o espírito competitivo. Cleusa classifica esse momento como ‘competição do bem’, em que elas disputam entre si o melhor desenho, pintura, traço. “Elas não sabiam nada, mas foram adquirindo habilidades no curso e hoje são perfeccionistas, querem sempre fazer o melhor. Isso é positivo porque descobriram algo em que podem se destacar e ser parabenizadas por isso”.

A diretora da unidade Adriana Quinteiro destaca que o projeto de artesanato é um dos mais bem-sucedidos entre as mulheres custodiadas. Além de auxiliar na autoestima, ele ajuda ainda na disciplina e no companheirismo entre as recuperandas. Elas aprenderam um ofício, desenvolveram um espírito de liderança e ensinam as outras internas.

“É muito interessante ver que elas têm outra ideia de futuro. Querem ser artesãs profissionais, se sentem valorizadas e questionam muito se vale a pena continuar na vida do crime. Essa reflexão é gratificante para nós porque mostra que elas estão disposta a ter outra vida ao progredirem de regime”, finaliza Adriana.

 

Com Assessoria                   

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