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Mulher, latina e socialista

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Mulher, latina e socialista
Foto: Scott Eisen/Getty Images

Os candidatos cujas ideias se inspiram na direita ganharam as eleições nos Estados Unidos e em muitos países da Europa. O Brasil foi apenas a última casualidade dessa onda conservadora.

Para mim, a eleição brasileira foi um dèjá vu do pleito norte-americano de 2016. E é por isto que acompanho com atenção a política de lá para prever o que pode acontecer por aqui num futuro não muito distante.

Nos EUA, as midterms (eleições que acontecem entre um pleito presidencial e outro) mostraram que o cenário ainda é confuso, mas há razões para ter esperança. As mulheres avançaram e conquistaram espaço. Foram eleitas negras, latinas, muçulmanas e indígenas.

Todas fizeram história, mas uma merece destaque. A nova-iorquina, Alexandria Ocasio-Cortez, de 29 anos, é a mulher mais jovem a ser eleita no Congresso dos EUA.

E não é só.

Além da pouca idade, essa descendente de porto-riquenhos é uma socialista convicta. Uma denominação que causaria arrepio naquela terra há alguns anos. Discípula do ex-candidato a presidente, Bernie Sanders, outro socialista famoso, Ocasio veio para ficar.

Suas ideias são ousadas.

A ex-garçonete, que trabalhou até a campanha começar, defende saúde e ensino superior gratuitos para todos, energia 100% renovável, abolição do departamento de imigração (o ICE, em inglês) e eliminação do financiamento de campanhas políticas por empresas privadas.

Calma, antes de você dizer que Ocasio quer transformar o mundo numa Venezuela, ela explica: “A definição de socialismo democrático para mim é o fato de que, em uma sociedade moderna e afluente, ninguém deveria ser pobre demais para viver”.

Ocasio teve percepção da desigualdade social quando começou a frequentar uma escola de uma região rica. Moradora de uma bairro pobre do Bronx, sua família, de classe trabalhadora, decidiu mudar a filha de escola por causa da má qualidade do ensino da área. Quando frequentou as aulas no subúrbio, em Westchester, uma região afluente de Nova Iorque, Ocasio entendeu que educação pública gratuita só era de qualidade nos bairros ricos.

Apesar da viagem que fazia para chegar até a escola, Ocasio concluiu o ensino médio e foi estudar Economia e Relações Internacionais na Boston University, graças ao empréstimo estudantil que conseguiu.

Assim que terminou a faculdade, precisou voltar para casa porque o pai estava doente. Com a morte do pai, a família quase foi à falência e ela foi trabalhar como garçonete para ajudar a mãe a complementar a renda doméstica.

Ocasio se envolveu na política ainda em Boston, quando trabalhou para Ted Kennedy. Mais tarde, ela foi uma ativista na campanha de Bernie Sanders.

Ocasio, que nasceu e sempre morou no Bronx, faz parte dos Socialistas Democráticos da América (DSA, a sigla em inglês), uma organização que cresceu nos últimos anos e agora tem milhares de filiados.

Mesmo sem aceitar dinheiro de empresas, Ocasio recebeu 78% dos votos do distrito que representa, numa campanha financiada por doações individuais. E promete lutar por tudo o que acredita. “Na nação mais rica da história do mundo, nossa grande escassez não é a falta de recursos, mas a falta de coragem política e imaginação moral”, disse numa entrevista. “É uma meta muito superficial ser simplesmente um país rico que acumula riqueza. Precisamos ser uma nação generosa também”.

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