Eu me lembro quando meu filho era pequeno e ouvia pais de adolescentes dividindo suas histórias. “A noite passada acordei de madrugada para buscá-lo na balada”. Era uma frase comum entre os pais dos meninos mais velhos.

Eu ouvia aquilo como se fosse a descrição de um futuro tão longínquo que nunca chegaria. “Comigo será diferente”, era o que sonhava.

Pois o tempo chegou e não foi diferente daqueles relatos dos outros pais.

Meu filho não quer mais sair à noite comigo e me cabe apenas o papel de mãetorista, a óbvia junção de mãe e motorista.

Tive a dimensão exata do meu papel quando atravessei uma das marginais mais movimentadas da capital paulista, às 2 e meia da madrugada, para buscar meu filho em uma festa de aniversário. Cruzei a cidade, ainda que sonolenta, para que ele chegasse são e salvo em casa.

A vida de mãetorista já dura muitos anos. Vem desde os momentos mais dependentes, quando levar o bebê de um lado para o outro nunca se encaixaria como uma obrigação. Passa pela fase seguinte, quando levamos e buscamos na escola, na natação, no futebol e qualquer outra atividade depois do colégio. São anos conduzindo o filho de um lugar para o outro, durante o dia. O ápice da função é quando nos deslocamos durante a madrugada.

É o ápice de uma era, mas também um sinal de que outro momento está chegando. Logo, meu filho não precisará de mim para levar de um lugar para o outro. Não terei a certeza de que o deixarei em um lugar e o buscarei no mesmo. Nada disso.

Em pouco mais de um ano, ele será o condutor de seu veículo. E também assumirá, um pouco mais, a direção de sua vida. E eu? Eu morrerei de saudade do tempo e da segurança que tinha quando era uma mãetorista.

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