A República foi em seus primórdios uma concessão militar. Voltou a ser nos anos 30 e nos anos pós-64. Já tivemos muitos presidentes militares, no atacado. E alguns no varejo, como o marechal Lott garantindo a República nos anos 60. Voltamos a ter de novo, desta vez pelo voto, com Bolsonaro.

Na antevéspera da eleição histórica que elegeria presidente Jair Bolsonaro, eu vinha de Siderópolis, onde tinha sido homenageado por ser filho da cidade cuja paisagem outro presidente da República mudara, fazendo os trabalhadores cavarem mais fundo, não mais para cultivar a lavoura, mas para tirar o carvão do subsolo.

O presidente Getúlio Vargas, que instalou a Era Vargas com a Revolução de 30, mudou até o nome da cidade. Nova Belluno, uma das primeiras colônias italianas no Brasil, tornou-se Siderópolis, quando ali foi construída a Companhia Siderúrgica Nacional, que abriu novas frentes de emprego, de comércio, de escolas etc.

[featured_paragraph]Sim, governantes alteram a vida do povo que os elege ou que os recebe como ditadores, como no caso de Getúlio Vargas, que experimentou as duas condições.[/featured_paragraph]

E como não foi o caso do general Médici, que, se quisesse, seria eleito também, depois de ter sucedido à Junta Militar na famosa crise da doença do general Costa e Silva.

Prestemos atenção aos sinais: suicídio, derrame cerebral, diverticulite, facada etc. É muito mais do que o trio “tiro, porrada e bomba” do antigo sucesso Beijinho no ombro, de Valesca Popozuda.

A Era Bolsonaro, caso venha realmente a ser instalada – ele precisará de mais uma cirurgia para corrigir os terríveis efeitos da facada – vai passar, pois que tudo passa, e o poder, qualquer poder, é efêmero.

Presidiários e outros condenados da Era Lula não se deram conta de que tudo passa, porque, tendo aceitado ser dirigidos por um apedeuta, se esqueceram dos livros.

Não é à toa que em sua derrocada se dê também a maior quebra de livrarias, já antecedida de complicações ainda maiores nos circuitos da produção editorial, que vai dos autores aos leitores, passando pelos livros em escolas e em universidades, mas formando o costume de entrar em bibliotecas para ler livros e nas livrarias para comprá-los e lê-los em casa. Sabem de alguma cervejaria em crise tão pesada?

Sucessivos governos pensaram que o negócio era vender e comprar livros, com as devidas corrupções e favorecimentos indevidos que infestaram também esta área, quando a verdadeira questão é lê-los.

Mas, para isso, a Era Bolsonaro terá que privilegiar a educação, sobretudo o ensino médio, onde são formados cidadãos e leitores. Facilitaram tanto a entrada na universidade, que hoje já se entra sem ler. E, pior ainda, se sai dali formado na mesma situação.

O livro paradidático tornou-se mercado, é verdade, mas não leitura. E por isso este processo ajudou a matar livrarias. Talvez o cliente das livrarias virtuais, de obras impressas ou digitais, tenha envelhecido, e a Galáxia Gutenberg tenha perdido milhões de habitantes. É preciso trazer de volta os que aprenderam a ler e não leem mais.

O livro precisa reconquistar o Brasil, pois no passado já lemos mais, e isso nos fez melhores. Por que me ufano de meu país, do Conde Afonso Celso, por exemplo, vendeu 200.000 exemplares na primeira República.

Entre tantas urgências da Era Bolsonaro, é preciso destacar as prioridades. E a educação alicerçada em bons professores e em bons livros será seu melhor investimento.

Esta estratégia, entre tantas vantagens, terá a de impedir que no futuro algum demagogo esperto engane de novo o povo, destruindo seus mais caros valores.

Se ficarmos apenas no combate à corrupção, luta decisiva e importante, extirparemos grandes tumores, mas o doente continuará imobilizado no leito do grande hospital chamado Brasil. E é preciso que ele levante, ande e trabalhe.

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