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Grupos de WhatsApp revelam mágoa de intervencionistas com o Exército

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Grupos de WhatsApp revelam mágoa de intervencionistas com o Exército
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Em menos de duas semanas, a pauta dos caminhoneiros paralisados em Mato Grosso mudou do preço do combustível para um pedido de intervenção no Governo Federal que deveria ter sido feito pelas Forças Armadas. Ato contínuo, as palavras de ordem passaram a ser a favor de uma “intervenção popular”, já sem o apelo ao Exército, que no dia 29 de maio havia dispersado os manifestantes em Cuiabá com bala de borracha e gás lacrimogênio.

No dia 21 de maio, quando os caminhoneiros decidiram cruzar os braços, grupos de WhatsApp multiplicaram-se na mesma velocidade dos bloqueios e dos postos de concentração nas rodovias federais do estado. A reportagem do LIVRE entrou em três deles, o “GPParalizaçãoSinop”, o “Manifestação BR163” e o “Melhor Tarifa Já”, criado pelos motoristas do Uber.

No “GPParalização”, os pedidos de intervenção ganharam mais força quando três ministros de Governo anunciaram um acordo feito com alguns representantes da categoria no dia 24 de maio. “Esses políticos corruptos vão ter que sentir na pele a crise que causaram no Brasil, intervenção militar urgente!”, escreveu N.L, um dos 170 participantes do grupo.

No “Manifestação BR163” os pedidos de intervenção se repetiram com menor frequência. Mas a presença dos intervencionistas tomou conta do grupo. “Aqui em Nova Mutum continuamos acordados, vamos manter com a intervenção”, disse o perfil D.P.D., que foi respondido com emojis de palmas enviadas por outros caminhoneiros.

Para garantir o máximo possível de adesão no movimento, os intervencionistas espalharam vídeos em que falsos oficias do Exército pediam o apoio da população. Uma mensagem corrente, talvez a mais difundida neste grupos, dizia que os militares não agiriam contra caminhões que tivessem faixas com os dizeres “Intervenção Militar Já”.

“Galera a PRF recebeu ordem de liberar as rodovias até o meio dia de hoje dia 24/05/2018, ordem vinda do governo federal, peço que repassem a todos os grupos possíveis pra que seja escrito em faixas e no para-brisa dos caminhões o pedido de INTERVENÇÃO MILITAR JÁ que assim o Exército não pode agredir a classe de caminhoneiros de forma alguma”, compartilhou um anônimo, sem descrição de contato no grupo.

Motoristas do Uber realizam a “Uber Off” protesto contra melhores tarifas do aplicativo, preço do combustível e em apoio aos caminhoneiros mobilizados (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Em 23 de maio condutores do Uber já se juntavam a greve dos caminhoneiros. Um buzinaço foi feito por eles nas avenidas Miguel Sutil e Fernando Corrêa. Toda organização do protesto foi feita pelo grupo “Melhor Tarifa Já. O espaço foi criado no primeiro dia da paralisação dos caminhoneiros para dar apoio aos grevistas.

A pauta, no entanto, sofreu uma metamorfose: o que era antes um protesto contra a baixa tarifa do Uber, o preço da gasolina e em apoio aos caminhoneiros tornou-se também um reduto para para pedidos de intervenção. “Os 5 generais que fizeram parte do regime militar morreram pobres. O regime militar foi ótimo pro Brasil. Agora se estes ladrões em Brasília são melhores então vão todos pra casa e deixem as coisas como estão”, indignou-se R., um dos 85 participantes do grupo.

Decepção e revolta

As mensagens com pedido de intervenção se repetiram até a terça-feira (29), quando o Exército atuou pela primeira vez na região do Distrito Industrial, e os caminhoneiros foram dispersados com bala de borracha e gás lacrimogênio. Na ocasião, manifestantes se sentaram na pista para impedir a passagem de uma escolta com combustível.

“Bom dia galera olha ai a covardia dessa nossa segurança”, anunciou D.F., que tem um emoji de caminhão na sua descrição de contato. “Exército PRF PM CIVIL NO LOCAL AGORA ao lado dos corruptos”, concluiu ele no “Manifestação BR163” às 22 horas de terça-feira. “O exército deveria está no lado do  povo”, lamentou B. e completou a mensagem com dois emojis de choro e tristeza. O grupo, que parcialmente foi renomeado para “Intervenção Militar Já” mudou imediatamente de nome, passou a se chamar “intervenção popular”.

Não demorou até que o movimento se desmobilizasse. Entre as 4 e as 5 horas da madrugada de quarta-feira (30), a Polícia Rodoviária Federal, com apoio do Exército, desobstruiu alguns trechos que ainda restavam. “Pessoal vamos apenas descarregar nossos caminhões e retornar pra nossas casas”, pediu resignado o caminhoneiro S.M., ilustrando sua tristeza com mais emojis.

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