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“Feitiço pode voltar contra o feiticeiro”, diz cientista político sobre greve

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“Feitiço pode voltar contra o feiticeiro”, diz cientista político sobre greve
Fernando Schüler, professor do Insper (Foto: Reprodução/FecomercioSP)

As primeiras consequências da greve dos caminhoneiros não poderiam ter sido melhores para seus organizadores: os governos, em quase todas as esferas, negociaram e toparam as suas reivindicações. Por outro lado, a população recebeu os caminhoneiros com festas em diversas cidades, em clara demonstração de apoio. 

Se até aqui o feitiço foi favorável aos organizadores, essa situação pode mudar para o seu oposto. “Diante da crise que a greve traz para a população e do fato de o governo ter aceitado a maior parte das reivindicações, o movimento entra em vias de resolução”, avalia o cientista político e professor do Insper, Fernando Schüler. “Se a greve continuar, agora o feitiço pode se voltar contra o feiticeiro na medida que a vida cotidiana for impactada mais dramaticamente pela greve”, prossegue. 

Prestes a proferir uma palestra sobre democracia na Universidade de Coimbra, em Portugal, Schüler conversou pelo telefone com o LIVRE. Segundo ele, a greve trouxe alguns questionamentos importantes sobre o atual momento da democracia no Brasil. São eles: o grau de maturidade do governo, a política de controle da exploração de petróleo e o nível da polarização política do país. Confira alguns dos principais trechos da conversa: 

Maturidade 

“Os caminhoneiros escolheram o momento certo para fazer a greve. Quem vai ser contra em pleno ano eleitoral? Isso mostra a enorme infantilidade do sistema politico, que não conseguiu prever o que estava para acontecer. Foi a mais pura incapacidade de fazer uma análise e antever o resultado de uma crise. O fato real é que a paralisação reduz crescimento econômico, reduz a trajetória de queda dos juros, impacta dívida pública e aumenta o déficit primário. A sociedade não percebeu que vai pagar pelas concessões do governo. Não tem almoço grátis”.

Dependência 

“Todo esse movimento, na verdade, começa lá atrás. É consequência de subsídios para aumentar o volume de caminhões e carros circulando. Se (o governo) mantiver o modelo de monopólio estatal na extração do petróleo, talvez faça sentido subsidiar ainda mais os combustíveis. Eu não quero dizer que concordo com esse modelo, porque não concordo. Mas se a sociedade quer manter as coisas como estão, os subsídios vão aumentar e a conta a pagar é da sociedade”. 

Polarização 

“Estou em Portugal agora para falar sobre democracia. Em Portugal, há alguns consensos a mais que no Brasil. No Brasil, temos polarização em diversos temas fundamentais para o avanço político e econômico do país, como a própria questão da exploração do petróleo. As coisas dificilmente avançam no Brasil sem disputas e brigas políticas”.

Eleições

“Quem poderia lucrar politicamente com o movimento dos caminhoneiros é o (pré-candidato à presidência, Jair) Bolsonaro. O caso leva à demanda por ordem, e ele representava a ordem nessa pré-campanha. Mas a sua atitude dúbia, de apoiar uma greve, pode levar ao questionamento dessa bandeira dele”.

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