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Família que perdeu parte da casa em incêndio revive tragédia diariamente; saiba como ajudar

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Família que perdeu parte da casa em incêndio revive tragédia diariamente; saiba como ajudar
(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

A família de Izabel Carvalho relembra todos os dias o incêndio que consumiu grande parte da residência, a primeira casa da vila de casarios históricos ao lado da Igreja São Benedito, em Cuiabá. No dia 11 de setembro, enquanto havia missa na igreja ao lado, transeuntes e vizinhos foram surpreendidos com a luz do fogo que ultrapassou os limites do telhado e então pôde ser percebido por quem passava por lá. Por uma bênção, acreditam seus moradores, não havia ninguém em casa.

Hoje a família vive entre os poucos espaços da parte de trás da casa. O que era história, foi quase toda perdida. Documentos, fotos de família, grande parte da residência que ficava à frente e até a escritura da casa. O quarto de Izabel ficava bem à frente. “Eu sinto falta de ficar à janela, acompanhando o movimento”, diz ela, sobre o menor de seus problemas após o fogo.

Izabel se emociona ao falar do tempo em que ficava da janela do seu quarto observando o movimento da cidade. Hoje, elas estão fechadas (Ednilson Aguiar)

Enquanto ela mostrava as janelas – agora fechadas – e que ficam de frente à viela, descobrimos um Papai Noel pendurado na entrada da casa, acima da porta que dava acesso ao quarto dela. “Ah! Eu não acredito!”, disse, às lágrimas. Izabel não conteve o choro quando constatou que, mesmo sendo aquele o ponto mais crítico do incêndio, o pequeno boneco não havia se queimado. Em tempos que antecedem a festa cristã, seria este um sinal?

Depois de contar com a solidariedade de pessoas que se uniram para garantir à família roupas e tudo mais que precisassem logo depois da tragédia, sem condições de reocupar o espaço, pois não tem dinheiro para custear a reforma, pode ser que neste período natalino – em que o espírito de unidade prevalece – eles consigam reabitar a área que foi incendiada.

“Estamos todos reunidos na parte de trás da casa, não que não sejamos resignados, mas se tivermos ajuda, temos o sonho de entregar a primeira parte da casa para a sociedade. Muitas fotos, propagandas e filmes foram feitos aqui na nossa fachada. Agora, a gente quer que esse espaço seja aberto à visitação pública”, diz.

Outros dois irmãos de Izabel – além dela – vivem com suas famílias na casa que fica ao lado da Igreja São Benedito (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Izabel conta que há algumas décadas sua avó realizava uma das principais festas da cidade. “Minha avó, Jovina de Carvalho, fazia a festa de São João com três dias de duração. Era muito animada. Era conhecida como a famosa Bola de Ouro”, relembra a professora, que é cuidadora de alunos especiais na rede pública de ensino.

Retomada contará com apoio de voluntários

O arquiteto e ativista em prol do patrimônio histórico, Robinson Araújo, corre contra o tempo para dar início à restauração da casa (Ednilson Aguiar/ O Livre)

Um dos que têm acompanhado o processo de perto e inicia mobilização pela restauração da área, é o arquiteto e coordenador do setor de Patrimônio Histórico da Secretaria de Estado de Cultura, Robinson Araújo. “Temos que começar em regime de urgência, já que a casa, assim como a Casa de Bem Bem, vai ficar vulnerável no período das chuvas. Corremos o risco de perdê-la, pois com a chuva as paredes podem ruir”, diz ele.

Robinson disse que o engenheiro Antônio Ramos Corrêa se dispôs a cuidar da obra e a professora Flávia Nascimento, da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Unic, também abraçou a causa. Ela e os alunos farão o projeto da casa, incluindo a área aberta à visitação do público. “A ideia é transformar em uma espécie de museu da cuiabania, para que o público possa visitar este que é um dos principais espaços históricos da cidade. Quem ama Cuiabá, vai ajudar a preservar sua história. Precisamos de apoio para compra de materiais e mão de obra”, explica. Especialistas da Sec-MT e do Instituto do Patrimônio e Histórico Nacional (Iphan) tem atuado como voluntários.

Valor Histórico

Segundo ele, a casa integra conjunto tombado pelo patrimônio histórico estadual. Tudo que está no entorno da Igreja de São Benedito é tombado também. A vila está aí desde os primeiros 50 anos de Cuiabá. A arquitetura é exemplo do modo de como os bandeirantes paulistas construíram no Brasil. “E ainda por cima fica de frente a uma área historicamente conhecida como Alavanca de Ouro, que na atualidade, não se sabe como, ganhou a alcunha de Ilha da Banana”.

O casario, como explica, data da época da colonização dos bandeirantes. “Os três tipos de paredes encontradas nessa parte incendiada já revelam a carga histórica. Tem tecnologia das origens, como a taipa – que parou de ser usada na metade do século 19 -, adobe e tijolos maciços, bem como ladrilhos hidráulicos que também foram danificados com o incêndio”.

Robinson avalia que essa região nunca foi valorizada e como a família não tem condições, foram feitas mínimas manutenções. “É uma casa que foi passada de geração em geração. E ainda hoje guarda toda sua originalidade”.

Sobre a Igreja de São Benedito, ao lado do casario, Robinson conta que nos idos de 1910 e 1920 ela foi neogótica. A partir de 1980, foi revitalizada, voltando às suas características originais, da arquitetura colonial.

Quem quiser ajudar a família a reerguer o pedaço da sua história e da história de Cuiabá que foi perdido no incêndio no início de setembro – e do qual ainda não se recuperaram – pode ligar na Coordenação de Patrimônio Histórico da Sec-MT, no (65) 3613-0232, falar com Robinson.

Com apoio de amigos, a família realiza também duas rifas. Cada uma sorteará, um televisor e um quadro. Toda renda será revertida para recuperação da casa. Quem quiser participar, pode ligar para Rogério Carvalho, irmão de Izabel, no 65 99916-7280.

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