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“Espiah só a praça” leva artistas de diversas linguagens para interagir com o público na Alencastro

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“Espiah só a praça” leva artistas de diversas linguagens para interagir com o público na Alencastro

Logo mais às 18h, começa a primeira edição do projeto “Espiah só a Praça!”. Tendo como cenário o Centro Histórico e mais exatamente a Praça Alencastro, reunirá artistas de diversas linguagens, da dança à música, passando pelas artes visuais e cênicas.

Idealizado pela artista plástica e arte educadora Lucrécia Dildo, o projeto aprovado no edital do Fundo Municipal de Cultura da Prefeitura de Cuiabá, conta ainda com a coordenação artística de Luciene Carvalho.

De acordo com Lucrécia, o evento promove a interação entre artistas e público – que se quiserem – participam também, afinal, o palco é aberto. “A Praça Alencastro é um ponto de referência de nossa cidade e cenário ideal para o “Espiah só a Praça!” que promove a inclusão cultural e a social por meio do teatro, dança, música e artes visuais. Com certeza, uma oportunidade para alegrar o dia e o coração de quem passar pela praça”, diz a produtora cultural.

Segundo ela, na primeira edição, a criatividade tem terreno fértil. Tudo se desenrolará a partir de um grande roteiro a ser construído de forma colaborativa. “Bailarinos dançarão ao som do saxofone. Um ator entrará conversando com amigos imaginários, relembrando os tempos de outrora. Contando como era a Cuiabá antiga, relembrando causos da cultura popular. Casais estarão congelados, vestido com roupas antigas. E dessa forma as histórias começam a desenrolar… Fotógrafos simulam antigas máquinas de Lambe, Lambe. Artistas do grafite estarão retratando o antigo com o novo em painéis de MDF. E o evento será encerrado com a apresentação de um grupo de Hip Hop”, conta a produtora.

A diretora artística, Luciene Carvalho, escreveu um texto inspirado – em tom de crônica – para contar como a parceria se desenrolou. Ela aproveita também, para estimular a participação de vários parceiros das artes. Vale ressaltar, Luciene é escritora cuiabana, membro da Academia de Mato-Grossense de Letras.

Espiah a praça

Lucrécia encontrou comigo dentro do Sesc Arsenal para me chamar prum trabalho gostoso e sensacional: eu escreveria o texto enquanto ela – dona de toda ideia – assumiria a batuta da coordenação geral.

Tudo certo tudo lindo; porém o tempo indo e vindo foi passando sem eu ver e eu querendo escrever. Declamei no ‘Vem pra Arena’ cozinhei em panela grande e em panela pequena; esperei por 40 madrugadas e nada. Fui pro 3 Barras, lugar bom para o repouso, pra conversar, fazer festa, nada! Já estava apavorada e as ideias enjauladas… Foi quando decidi: ‘Eu vou para o Sucuri! Distrito antigo, não tem perigo de errar’.

Liguei para Dona Adelaide que tem chácara por lá e é uma graça que só ela. E fui… na primeira noite, um frio que era um açoite, uma neblina… Só deu para tomar café e caçar meia pro pé. Na outra noite, depois de trocar ideia com Patrícia, com Amanda e com Fabrício, pensei: ‘se manda pro Sucuri’, foi lá que aconteceu… escutei um burburinho… – não sei se era a noite alta ou na aurora cedinho, ao meio da serração – só sei que era conversa de gente que parecia contente por poder estar ali.

Eu, entre o medo e o susto, saí da varanda e me escondi atrás do arbusto, Enxerguei o que o meu olho não viu, fiquei muda! Há 5 metros de mim reconheci Liu Arruda, Chico Amorim e Dunga falando com Dom Aquino sobre o destino que deveriam dar, o que falar, como fazer para coisa acontecer…

Saí do medo que paralisa e fui buscar uma lamparina, pois meu celular não funcionava. Aceso o pavio, vieram em minha direção primeiro Paulo Medina e Luís Carlos Ribeiro e disseram: Luciene, não tenha medo, estamos do lado de cá, mas estamos organizando para tentar ajudar a organizar.

Ouvi um tropé – olhei – vinham chegando Silva Freire e Jejé no mesmo tempo que Dom Aquino explicava um pouco mais: “os ancestrais estão se mobilizando para traçar diretrizes para a grande comemoração dos 300 anos desta nossa Cuiabá”. Uma vez atrás de mim disse: ‘’a cidade precisa estar bonita’’ virei… era José de Mesquita. Figura recém chegada, Manoel de Barros apontou ‘’Olha lá’’, numa bancada iluminada por estrelas estavam Estevão de Mendonça, Rubens de Mendonça e Gervásio Leite, ele selecionavam livros vários. Maria Taquara estava uma arara porquê Zé Bolo Flor, Mané Grande e Mestre Albertino, rindo, ficavam só cantando música da Cuiabá de todos os tempos. Seu Arsênio pontuou: “Sem cabeça de boi assada, não é festa cuiabana”, dona Paulina respondeu: “Sem paçoca de pilão também não”.

Num canto retirado, Augusto Caruncho e Seu Darcy trocavam impressões sobre os excessos com bebidas. Rindo como uma menina Ana Virginia Ferraz dizia ao Swat e ao Seu Cesário: ‘’ precisam pensar nos aromas, nas ervas e no salário dos funcionários’’, Swat continuava mexendo com folhas e plantas, enquanto Seu Cesário murmurava orações no seu colar de contas.

Ai eu explodi: “vocês estão loucos ou querem me enlouquecer? Isso não é da minha conta!” Padre Pombo, ajeitando a batina no ombro disse: “tem alguém que vai lhe dar uma explicação…” Então apareceu Dona Conceição, era minha mãe… não contive a emoção, ela me falou: “achamos uma graça um projeto belo e pequenino, que veio lá do Vuolo, chamado de Espiah a Praça que já do nome é a cara de Cuiabá, atuamos através de Zilda Barradas – menina danada – e de Lucrécia que é de outra dimensão. Filha, vamos usar sua escrita, para que possam ser ditas algumas indicações para comemoração dos 300 anos da nossa velha Senhora dos brincos de ouro. Essa festa tem que ser pros cuiabanos – de nascença ou migração – tem que ter um coração, tem que ser de emocionar. A lua está nova filha, escreve e ouvi a voz dos ancestrais a lhe dizer”.

….e assim foi falado “Primeiro vamos falar do que se chama pau rodado, alguns, e isso foi decretado, só nasceram noutro lugar, eles tem Cuiabá como destino, como lar. São essenciais, tais como Aline Figueiredo, João Carlos Vicente Ferreira, Elizabeth Madureira, Adriana Nascimento, Anna Amélia Marimon, Magna, Habel dy Anjos, Ramom Carlini, Carlos Taubaté, Mana Teresa Carracedo, Cristina Campos, Lucinda Persona, Leonor Cristina Ferreira, Walderez, Márcio César Leite, Eduardo Mahon, Maria Tereza Amaral. A própria Lucrécia e você. Não dá para pensar em comemorar os 300 anos sem agradecer essa gente que chamamos aqui de “cuiabanos Abraçados”, pois abraçaram e se permitiram ser abraçados por Cuiabá. ” Cuiabá é terra de muitos talentos não é Jejé? ‘’ Disse dona Conceição ao ver Jejé se aproximar… ele comentou: só vim lembrar que nossas festa tem que ter mastro hasteado, com a face de São Benedito voltada para o leste. Não prestam atenção neste detalhe para ver. Só se desde o mastro no fim dos festejos, não é religião; é tradição! ‘’ Lio gritou de onde estava: “Tem que ter humor, o povo daqui gosta de rir das coisinhas cotidianas, sacanas, escancaradas. Chama Ivan Belém, Vital Siqueira, André D’Lucca, Totó Bodega, Nico e Lau. Aí é riso garantido’’.

Silenciosa até então, dona Maria Muller sentenciou: “tem 3 mulheres que

escreveram e assinaram a própria história, isso me deixa feliz: Marília

Beatriz, Antonieta e Cybele Bussiki” Paulo Medina perguntou: “menina, Rai Reis e Guapo são de Cáceres e aí?” Dunga que passava resolveu: ‘’Rai e Guapo de Cáceres, Suely Siqueira, João Eloy de Chapada são Cuiabá, num sabe não? Cuiabá é Cerrado, Pantanal e Chapadão. “Inclusive estou refletindo o caso de Vera Capité e o seu, Luciene, já que nasceram no

Mato Grosso Uno, tendo Cuiabá por capital”. Dom Aquino com o ar aflito alertou: “Já está diminuindo a neblina, breve nosso tempo termina, sejamos sintéticos”.

No siriri, a tradição do Dominas do Flor Ribeirinha e do Nezinho de Mata Cavalo. No Cururu, Seu Chico Sales e a Hereditariedade do Jonas. Nas telas, Adir Sodré, Zeilton Matos, Clovito, Gervane, Dalva e esse menino novo Adriano Figueiredo. Tanto pintor bom…

Na literatura, aí a coisa é um perigo, nas letras Cuiabá é berço e abrigo, celeiro abundante… Ivens e Aclyse serão representantes da terra.

No teatro podem falar, mas Flavio Ferreira é preparado, por isso assina a cena por todo lado. “Agora música é delicado, tem música por toda Cuiabá, é complicado, tem bons músicos para todo lado: Amaury Lobo, Deize, Adnângela, Seu Oswaldo, Bolinha, Lucialdo, Gomes, Estela, André Balbino, Rúsivel, Eduardo Ferreira, Juliana, Billy Spíndola…”

“Mas teatro não é só gestão e direção” rompeu Luís Carlos “e os atores, Cuiabá tem horrores: Wagton Douglas, Péricles Anarcos, Juliana Capilé, Theresa Helena, Tibanaré, tantos…” “Olha, Cuiabá já tem Cinema, como assim?” Exclamou Chico Amorim: ‘’ tem Amaury Tangará, Gloria Albuês, Juliana Curvo, Luiz Marchetti, Paulo Traven, Marcelo Biss, Caru”.

Eu estava tonta com tanta coisa pronta para acontecer, para se mostrar. “Tem os homens da gestão e do conhecimento: Clovis de Mattos, Benedito Dorileo, Fernando Tadeu, Waldir Bertúlio, Moises Martins, homens que nos enchem de orgulho”, citou dona Maria Muller.

Dunga lembrou: “Cuiabá tem hip hop, quem imaginaria? Talvez Mário Olímpio… Tem Mano Raul da comunicação – Rapper Jesus, José Celio, Rapper Azul, DJ Spinha, DJ Tapa, Jonathan, DJ Alexandre, Linha Dura, conduta do Gueto Guio, N21. É a voz da periferia. A neblina se dissipava, nesta altura, já não sabia quem falava. Quase senti o toque das mãos da minha mãe em meu rosto, enquanto se afastava Seu Mané Grande ainda gritou: “Cuiabá tem gosto de peixe, de fruta de estação, tem quebra-torto”. Não sei se dormi ou acordei, só sei que escrevi vendo o Sucuri envolto em fumaça. Juntei o que escrevi, agora estou aqui, vim Espiah a Praça.

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