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Em papel e pele: artista visual cuiabana imprime ilustrações em suportes diversos

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Em papel e pele: artista visual cuiabana imprime ilustrações em suportes diversos
Artista abandonou o jornalismo para se dedicar às artes visuais: está ainda mais realizada (Foto: Camila Cecílio)

A artista plástica cuiabana Simone Ishizuka se insere em um movimento que tem ganhado força nos grandes centros. Ela integra o hall de artistas visuais que, além de reproduzir suas ideias em suportes diversos como telas, flâmulas e parede, também incursionam pelo universo dos estúdios de tatuagem, aplicando ilustrações autorais em pele.

Em curta temporada na cidade, Simone, que há mais de um ano foi para São Paulo morar e se especializar, estava com a agenda cheia. Diversos entusiastas de sua arte foram até o estúdio Cry Baby, do tatuador Dark Jordão, para que pudessem imprimir em seu corpo a arte da Sika, como ela é carinhosamente chamada pelos amigos.

Paralelamente, realizava sessões de pintura em outra região da cidade, no Boa Esperança. No teto do “coração” do pub Cão Latino, o bar, imprimia mais uma obra de sua autoria. A artista que costuma desenhar animais, desta vez, foi buscar inspiração no folclore mato-grossense para ilustrar o Minhocão do Pari. Suas referências são tão plurais, que ao ícone regional incorporou e fundiu referências da arte oriental, traços da arte indígena e ainda, grafismos. Além deste, há outras duas ilustrações da artista na parede tituladas “Fogo no Cerrado” e “Gavião Rei”.

Pluralidade de referências

Seus desenhos ao que parece, refletem as referências incorporadas desde a idade mais tenra. Na infância, acompanhou a criação do negócio dos pais, inteiramente dedicado ao desenvolvimento do artesanato regional. “Era uma loja para revender artesanato, oportunizar espaço aos artistas que estavam em seus redutos, em comunidades ribeirinhas, rurais e indígenas, a exemplo. Eles se dedicavam também ao fomento dessas produções. Por vezes os vi comprar materiais para dar subsídios a esses artistas”, relembra. Foi então que teve seu primeiro contato com a iconografia mato-grossense.

Por conta da sua ancestralidade, também sofreu grande influência da cultura nipônica. “Meu avô materno era artista dedicado à técnica sumiê”. Esta, consiste em uma pintura do tipo aquarela, em preto e branco, originada em mosteiros budistas da China. Foi levada aos monges zen ao Japão a partir do século XIV.  Para estes artistas, o mais importante era retratar a essência do elemento a ser pintado, não apenas a reprodução da sua aparência exterior.

Segundo historiadores dedicados à trajetória das artes mundial, a partir do século XV, passou a retratar também pássaros, flores e paisagens. Simone também faz conexão com as primeiras obras.

“Comecei a me enveredar pelas artes visuais quando tinha entre os dez e 14 anos. Desde muito pequena acompanhava a produção artística dele e intuitivamente neste período em que fiz aulas com a artista plástica Jussara Sartori, minha arte tinha inclinação às paisagens e animais. Jussara mesmo percebeu isso e certa vez até comentou comigo”.

A arte imita a vida

A propósito, Simone percebe que os pássaros “dominaram” boa parte de suas obras na atualidade. “Tenho uma identificação muito grande com eles. Deve ser porque prezo muito pela liberdade”. Depois de se formar em Jornalismo, Simone suspendeu por um tempo a profissão para se lançar em viagens. Foram 17 países. “Esse contato com a cultura de outros países foi muito importante para construir a identidade que tenho hoje”.

“Foram marcantes as viagens para a Venezuela e o intercâmbio em Londres, onde aproveitei para conhecer outros países que ficam próximos à Inglaterra. “Morei em Porto Alegre certo tempo depois que retornei do intercâmbio e logo, comecei a trabalhar em assessoria no Governo de Mato Grosso. Foi então que realizei diversas viagens pelo interior de Mato Grosso. Das estradas e lugares ermos nos rincões do Estado aos museus europeus, como o Louvre, tudo me inspirou e agregou à minha produção artística”, diz a artista que busca também, referências nos elementos do Cerrado.

“E hoje, com os investimentos que tenho feitos em cursos, aperfeiçoo meu trabalho. Tem um pouco da cultura oriental, dos grafismos, da cultura indígena e recentemente, descobri a xilogravura. É algo que tem me atraído muito”, conta.

“E além de todos os suportes que utilizo, como bolsas, camisetas, flâmulas, imãs de geladeira e tudo mais, encontrei uma nova paixão, que é tatuar. É mais uma forma de expandir minha arte. Tatuar vai além, é uma troca de energia”. A arte da Sika, além de poder ser apreciada pelos frequentadores do Cão Latino, que tem as obras já incorporadas ao ambiente, pôde ser vista em exposição ao lado do artista Gorayeb, na Casa do Parque, nas ocupações de espaços públicos da cidade com o Movimento Rota e recentemente, em mostra na Praça Roosevelt, em São Paulo.

“Quando alguém vê minha obra, espero profundamente que ela se sinta tocada. E que a partir deste contato ela esteja mais receptiva a toda linguagem artística”.

O boom do novo período produtivo veio em 2014, quando ela começou a publicar os desenhos que fazia em seu perfil no Facebook. “O feedback era tão positivo que eu decidi acreditar neste sonho e foi assim que larguei tudo, fui para São Paulo. Foi a melhor decisão”, diz determinada.

E agora, ao ampliar as possibilidades com o mercado da tatuagem, ela acredita que esteja vivendo um novo momento. “Começo a ter retorno com a tatuagem. Aqui em Cuiabá mesmo, muita gente tatuou, fui surpreendida por pessoas que disseram que já conheciam meu trabalho. Em São Paulo, já tenho agenda. Está rolando uma guinada. Valeu a pena largar tudo, mas tenho muito orgulho pelo crescimento pessoal que o jornalismo me proporcionou. Sou uma cidadã consciente que sabe o valor da cultura e da democratização do acesso a ela. Me dedicar a arte tem me feito muito feliz”.

“Me dedicar a arte tem me feito muito feliz” (Foto: Camila Cecílio)

 

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