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Eduardo Botelho: Crimes da internet seriam evitados se usuários fossem mais prudentes

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Eduardo Botelho: Crimes da internet seriam evitados se usuários fossem mais prudentes

O brasileiro passa mais de nove horas por dia navegando na internet, segundo o relatório “2018 Global Digital“, produzido pela We Are Social, em parceria com o Hootsuite. Outros dados, do GlobalWebIndex, apontam que a média de tempo dos usuários em todo o globo é de cerca de seis horas por dia. Nesse universo, já é de se esperar que aconteçam as mais variadas interações entre os usuários, inclusive crimes virtuais.

De acordo com o delegado Eduardo Augusto de Paula Botelho, titular da Gerência de Combate de Crimes de Alta Tecnologia (Gecat), da Polícia Civil de Mato Grosso, a maioria dos casos acontece no âmbito de sites de relacionamentos, como Facebook e Instagram, e do comércio eletrônico, em sites como a OLX. Isso porque os usuários se tornam vulneráveis nesses ambientes.

Há cerca de cinco anos, a polícia criou a Gerência, no intuito de facilitar a identificação dos suspeitos de cometerem esses crimes virtuais.

Em alguns casos, conforme Botelho, o trabalho da equipe, composta por seis investigadores, é um pouco mais complicado, já que os suspeitos utilizam um Proxy, que camufla a real localização da pessoa.

Em outros, ainda que o culpado seja encontrado, é muito difícil a vítima recuperar um dinheiro entregue aos estelionatários, porque o montante logo é dividido entre outras pessoas, tornando-o difícil de ser rastreado.

No mês passado, o LIVRE noticiou diversos casos envolvendo crimes virtuais. Em um, a mãe de uma adolescente procurou a polícia para dizer que temia pela vida da filha, que foi acusada por outros jovens de ter autora de um vídeo difamatório. Outro boletim de ocorrência trazia cuiabanos vítimas de estelionato, que tentavam vender um notebook e uma televisão.

Para qualquer uma das situações, o delegado afirma que o crime poderia ser evitado – ou o dano diminuído – se os usuários da internet fossem mais prudente na forma da sua utilização.

Abaixo, confira cinco perguntas que o LIVRE fez ao delegado:

1 – A popularização das redes sociais, principalmente o Facebook e o Instagram, tem contribuído para o aumento de crimes virtuais?

Eduardo Botelho – Sim, com certeza. Os casos são recorrentes, diários. Mas também muitas pessoas que são vítimas preferem ficar sendo vítimas e não procuram a delegacia com medo de ter sua identidade ainda mais violada. Muitas pessoas se utilizam da internet como uma forma de esconder sua real identidade. Então elas escondem a identidade e praticam alguma conduta que é vedada como forma de facilitar a impunidade. As pessoas fazem isso com essa intenção.

2 – Pode-se dizer que os crimes da internet, em geral, dependem do nível de atenção do usuário?

Eduardo Botelho – Sim, se ela prestar um pouco mais de atenção, for um pouco mais cuidadosa… Principalmente esses crimes em que a pessoa, de uma forma completamente fácil, acaba enviando pra outra uma foto em que aparece nua. Se ela fosse um pouco mais prudente e tivesse mais cuidado, ela não faria isso. Ainda mais porque sempre ficamos sabendo, pela internet e pela imprensa, que várias pessoas são vítimas desse tipo de conduta. Se tivesse mais atenção, esses crimes diminuiriam bastante.

3 – Existe um perfil de vítimas da internet?

Eduardo Botelho – Depende do tipo de crime. Em geral, nesses casos de imagem, os homens são mais imprudentes e acabam enviando. Mas estelionato, por exemplo, pode acontecer com qualquer um.

4 – O senhor tem filhos? O trabalho na Gecat faz com que você fique mais atento à forma como eles usam as redes sociais?

Eduardo Botelho – Tenho um filho, mas ele ainda está meio novo para usar a internet (risos). Ele tem quatro anos. Mas é lógico que o que eu aprendo aqui vai ficar como lição, para que eu possa falar com ele sobre o assunto, no momento oportuno. Eu já falo com pessoas conhecidas, já falo “olha, não vá passar nada pro seu namorado, pelo amor de Deus. Isso pode terminar mal”, ou “olha, você vai comprar um carro? Toma cuidado com o preço”. Então, com pessoas conhecidas, eu costumo dar algumas dicas.

5 – Dos crimes que o senhor investigou aqui, pode citar algum que mais te deixou chocado?

Eduardo Botelho – Teve uma pessoa que teve o vídeo íntimo divulgado no maior site pornográfico do país, o XVideos, e ela perdeu o emprego por isso. Ela ficou muito abalada com tudo isso e eu também fiquei tocado pela forma como essa exposição a afetou. Eu acabei acompanhando o caso um pouco mais, ela veio algumas vezes. E as pessoas que fazem isso não tem noção de como a vítima pode ser afetada, sabe? Esse caso acabou me marcando. Nós encontramos o acusado e era uma pessoa que ela conhecia, mas não era o namorado.

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