Principal

Dom Bosco, Brasília, Centro-Oeste: o futuro

6 minutos de leitura
Dom Bosco, Brasília, Centro-Oeste: o futuro

Esse é um tema fascinante. Me envolvi com ele no dia 31 de janeiro de 1961. Numa tarde chuvosa e fria, chegava a Brasília com uma velha mala de fibra, algumas peças de roupa e alguns livros. Pouco dinheiro no bolso. Fui para estudar o Curso Científico num colégio revolucionário que se abriria na capital: o Elefante Branco. Fazia parte do sistema educacional que começava no fundamental em duas escolas vizinhas, uma delas famosa, o Caseb, o Elefante Branco e, lá na frente, a Universidade de Brasília. Naquele dia 31 de janeiro saía do governo o presidente Juscelino Kubitschek, o lendário JK, e tomava posse Jânio Quadros.

Brasília fora inaugurada como capital do Brasil no dia 21 de abril de 1960. Ainda era um quase canteiro de obras quando lá cheguei. Falava-se abertamente sobre Dom Bosco, como inspirador da construção de Brasília. Transferia-se a capital do Brasil do Rio de Janeiro para o Centro-Oeste. Dom Bosco fora um sacerdote católico italiano que sonhou em 1883 com a região do Centro-Oeste brasileiro. Enxergou um futuro extraordinário para a região e particularizou a construção de uma cidade às margens de um lago, como irradiadora espiritual. Tomei conhecimento do tema e acabei me envolvendo nele por muitos caminhos. Mais tarde, estudando Jornalismo na segunda turma da UnB, o mito de Dom Bosco aparecia nas aulas de História. Adquiri uma forte identidade e, diria, até uma certa intimidade com o sonho profético de Dom Bosco. Pretendo falar dele de agora por diante.

O sonho dizia assim, na tradução disponível no folheto distribuído no dia da inauguração de Brasília. Relatava o sonho de uma viagem de Dom Bosco pela América do Sul:

“Dom Bosco localizou a faixa compreendida pelos paralelos 15 e 20, entre os Andes e o Oceano Atlântico. Exatamente entre os paralelos 15 e 16 foi localizada a nova Capital do Brasil. O que viu Dom Bosco? Embora o objeto de sua visão não seja exclusivamente nem mesmo explicitamente Brasília, podemos afirmar que Dom Bosco viu, em 1883, o que hoje, em parte, é realidade. Reforça a nossa convicção o teor mesmo da narração: “Quando vierem explorar as riquezas escondidas neste planalto, surgirá aqui a terra prometida, onde jorrará leite e mel. Será uma riqueza inconcebível”. Ora, maior repercussão não obteve nenhuma outra descoberta, em outros pontos da referida faixa continental.

Ademais que Dom Bosco tivesse associado ao Brasil o presente sonho, está fora de dúvida. Compreendemo-lo melhor se recordarmos que, em 14 de julho de 1883, alguns dias antes do sonho profético, desembarcavam no Brasil os primeiros Salesianos, para dar início à primeira fundação neste país. Toda a preocupação de Dom Bosco estava, naqueles dias, voltada para o Brasil. Testemunha o Padre Filipe Rinaldi, terceiro sucessor do Santo, que o surpreendera em seu quarto, contemplando enternecido um atlas que focalizava exatamente o Brasil. Suas palavras então revelaram sua esperança no futuro do Brasil Salesiano, chegando a prever para sua obra, em nossa terra, duzentas casas! Era humanamente ridículo pensar em tão prodigioso florescimento, quando aqui se implantara apenas uma casa, que lutava de todo gênero. No maravilhoso sonho que viemos examinando, Dom Bosco abraçou, na extensão que lhe permitiu a visão profética, o desenvolvimento de sua obra, juntamente com o progresso material da Terra. Para este, já sorri, com a inauguração da nova Capital a aurora de radiante progresso, enquanto o fabuloso desenvolvimento da obra Salesiana é uma consoladora realidade. Folheto entregue na Inauguração de Brasília.

Ele afirmava que esses fatos acontecerão na terceira geração, que se daria entre 2003 e 2063.

A construção de Brasília arrastava-se desde a histórica Expedição Cruls, em 1892. Esteve nas constituições seguintes, mas nunca se concretizou. O presidente JK tinha uma forte vertente mística e espiritual. Dele se cercaram alguns visionários muito espiritualizados e com indiscutível vocação mística. Vou citar apenas alguns: o antropólogo Darcy Ribeiro, fundador da UnB. O arquiteto Oscar Niemeyer, projetor da revolucionária arquitetura da capital. Lúcio Costa, que projetou a cidade na forma de um avião, o ex-governador mineiro Israel Pinheiro, tocador da obra, o médico Ernesto Silva, projetor do sistema de saúde da capital e Bernardo Sayão, abridor das rodovias que saíam de Brasília nas direções Leste, Oeste, Sul e Norte do Brasil.

Por detrás do projeto de Brasília uma série de coincidências com a cidade de Tel-El-Amarna construída no Baixo Egito pelo faraó Akhenaton, marido da rainha Neffertiti. As coincidências arquitetônicas e astronômicas de Brasília são extraordinárias. Quem se interessar pelo assunto, vai encontrar um vídeo no youtube  “Brasília Secreta – Semelhanças entre Brasília e a antiga capital do Egito”.

Mas o que haveria por detrás do esforço de construir em cinco anos uma cidade tão moderna, tão espiritualmente comprometida com o futuro numa região de baixíssima população no Centro-Oeste do Brasil?  O fato só se explica através do sonho de Dom Bosco e de uma série de outras profecias semelhantes. A ideia inicial era ocupar o território vazio, permitir a subida para a ocupação da Amazônia e desafogar pressões sociais no Sul, no Sudeste e no Nordeste brasileiros.

Isso realmente se deu em escala crescente a partir de Brasília. Mato Grosso, por exemplo, saiu de uma população de 598 mil habitantes em 1970, para os atuais 3 milhões, assim como Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e o Distrito Federal. Mais relevante, contudo, e vai merecer o próximo artigo, foi a mistura racial que se deu na região. Resultou em poderoso crescimento econômico de todos os estados regionais e colocou-os no mapa da economia mundial como produtores de comida. Voltarei ao assunto.

Assinatura Coluna Onofre

 

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes