O roteiro era perfeito. Atuando como juíza na sétima vara criminal de Cuiabá, onde desaguavam todos os processos de crimes de corrupção, ela tinha a faca e o queijo na mão num momento em que o Estado estava sob o comando de um governador que assumiu com a bandeira de acabar com a bandalheira que corria solta já há muito tempo e fora agravada no governo Silval Barbosa.

Apelidada de Sério Moro de saias e já de olho na aposentadoria em um futuro próximo, Selma, sempre disponível para aparecer na imprensa, colocou em prática o planejamento para o ingresso vitorioso na carreira política. E tudo ia de vento em popa, desde a prisão e condenação de José Riva, o maior ficha suja do país, além de colocar atrás das grades, de forma inédita, um ex-governador, condenando-o também por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros. Seguiram-se a eles Alan Malouf e outros tantos.

Vendeu, e grande parte da população comprou, a ideia de que no Senado da República seria uma das principais vozes a bradar contra a corrupção que se espalha por todo país. Já no encerramento do que seria uma brilhante carreira, porém, o roteiro revelou-se falho. Na aposentadoria recebeu valores indevidos e não mostrou desejo algum de devolvê-los. Manteve, ilegalmente, uma segurança pessoal que foi proibida pelo Tribunal de Justiça. Não contente com isso, enquanto iniciava um namoro político com o atual governador, obteve dele, também ilegalmente, a segurança pessoal que lhe fora negada pelo Tribunal. Perdeu-a também.

[featured_paragraph]Ao entrar no mundo da política, descobriu que não tinha mais a proteção do cargo de juíza. Entrava para o mundo onde não mais existe privacidade e, a partir daí, sua vida passou a ser esmiuçada e, a cada deslize nas entrevistas que concedia, ia mostrando a sua verdadeira face. Revelava-se um fake news.[/featured_paragraph]

Acobertada por Taques, que tinha interesse em vingar-se de Nilson Leitão que lhe impusera sua candidatura ao Senado, Selma já “queimou” a largada: inconformada por não ser a estrela principal da coligação de que fazia parte, partiu para o ataque contra o governador e o outro candidato ao Senado em sua chapa, deputado Nilson leitão.

De repente, num passe de mágica, passou a atacá-los jogando-os na vala dos suspeitos de corrupção que ela prometera jamais aliar-se ou repartir palanque.

Mostrando que não lhe interessava a política partidária, chegou a pedir, por duas vezes, que, dado a ela o primeiro voto, o segundo poderia ser dado àquele cujo partido é a antítese de tudo que preconiza o seu líder maior e candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro: o Procurador Mauro do PSOL.

O pior ainda estava por vir: por não cumprimento de contrato com a agência que escolheu para cuidar do seu marketing de campanha, tornou-se alvo de uma denúncia do Ministério Público Eleitoral, junto com seu primeiro suplente, com pedido de cassação de sua chapa e perda dos direitos políticos por 8 anos, quebra de sigilo fiscal e, no caso de eleição, pela proximidade do pleito, a não concessão do Diploma eleitoral pelo crime de caixa 2, através de pagamentos realizados de 700 mil reais ainda na pré-campanha, valor bem acima do patrimônio por ela declarado quando do registro da candidatura. Se for aceita a denúncia, na condição de ré, entrará para a vala comum daqueles que sempre combateu e condenou. Algo inimaginável.

Se vitoriosa – e há chance de sê-lo – a juíza Selma terá, ainda, durante sua defesa, de percorrer o longo caminho daqueles que, acusados de crimes, sentavam-se a sua frente em audiências e interrogatórios, com histórias construídas por advogados especialistas em inocentar seus clientes. Vida nada fácil para quem se apresentava como guardiã da moralidade e da ética na política.

A três dias das eleições, o quadro para disputa ao Governo do Estado, traz-nos a grande dúvida, se Mauro Mendes não levar já no primeiro turno, quem será seu adversário no segundo? Taques e Wellington Fagundes disputam, palmo a palmo, o votos dos indecisos. Cada um dos três alardeia o resultado que mais lhe favorece.

No plano nacional, um final eletrizante. A eleição tornou-se plebiscitária: é a guerra pela conquista do voto útil. Haddad contra Bolsonaro foi o que restou. Todos os demais candidatos ficaram no meio do caminho. A população está dividida entre os que querem a continuidade da roubalheira infligida pelos 14 anos de poder do PT, liderados pelo seu líder maior, Lula, que mesmo atrás das grades continua orientando a campanha do seu poste, insinuando que, com sua vitória, tudo continuará como está. Os que não querem, esses apostam todas as fichas em Jair Bolsonaro.

Bolsonaro a cada dia mostra-se, apesar de não ter tempo de TV e rádio, cada vez mais forte, avançando nos redutos mais tradicionais do PT. Nada do que foi feito para desconstruí-lo deu certo, nem mesmo a facada covarde de que foi alvo. Tirou-o da campanha, mas não o tirou da disputa. Os grandes institutos de pesquisa, nesta reta final, calibram seus resultados para não terem de explicar um grande vexame como foi nas eleições de 2014 e 2016. Todos os índices divulgados sugerem segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, mas nenhum deles descarta a possibilidade de uma vitória do capitão já no próximo domingo.

*Advogado, analista político e ex-parlamentar estadual e federal

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