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Cinco Perguntas para Oscar Schmidt: “ainda não me perdoei por perder uma medalha olímpica”

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Cinco Perguntas para Oscar Schmidt: “ainda não me perdoei por perder uma medalha olímpica”

Com mais de dois metros de altura, uma cara bem fechada e uma voz forte, que quase esconde uma simpatia – à primeira vista inimaginável – e um coração maior que ele, Oscar Schmidt é daquelas personalidades que dão um certo medo no início da entrevista. Altivo e assertivo, parece que sua liderança não vai permitir o avanço da conversa, mas todo o receio cai por terra na primeira pergunta, quando abre um grande sorriso demonstrando bom humor, paciência e humildade.

Atleta de ponta e considerado o maior jogador de basquetebol do Brasil em sua época, ele até lamenta o reconhecimento financeiro muito abaixo dos padrões atuais e, em uma entrevista exclusiva ao LIVRE, em sua rápida passagem por Sinop (500 km de Cuiabá), contou como fez sua transição das quadras aos palcos, tornando-se uma referência também em palestras motivacionais.

1 – Você foi um dos maiores jogadores de basquete do seu tempo, como foi a troca das quadras para os palcos?

Oscar Schmidt – É difícil, porque primeiro não fiquei rico, pois os valores eram completamente diferentes, não me formei, fui para a Itália, fiquei lá 13 anos e não preparei nada para quando eu parasse de jogar, nada mesmo. Quando parei de jogar, eu falei: “o que vou fazer agora?” Me fechei dentro de casa preparando uma palestra, só que quando você vai preparar uma palestra, você não sabe por onde começar. Foi quando eu pesquisei nos meus arquivos e preparei uma palestra grande e uma pequena, não tinha título nem nada, ficou uma porcaria o que eu preparei (risos). Mesmo sem saber direito, fui para o mercado de palestra. Eu era famoso, o povo me contratava para fazer palestra para os funcionários e eu acreditava que estava arrebentando.

Um dia eu vi uma palestra minha e fiquei chateado comigo mesmo porque eu não parava de falar “aí”, cada frase eu falava um “aí”, e eu falei: “não pode ficar falando aí o tempo todo, estou roubando dinheiro”. Para melhorar tive que concentrar muito, e assim foi com todos os meus vícios de linguagem. Chegou um momento em que eu não consegui evoluir sozinho. Contratei um mestre nas palestras brasileiras, que é o João Cordeiro, ele é o único cara que vai para os EUA todo ano para ver a convenção de palestrantes americanos, ele me ajudou muito a montar três palestras, na época era Liderança, Desafios e Obstinação.

Desde então, a palestra Obstinação virou uma paixão e hoje é uma palestra incrível. Somente no ano passado nós sentamos, discutimos bastante e criamos essa nova palestra. O que você não pode perder é a piada; o povo tem que rir o tempo todo e você tem que coordenar essas coisas engraçadas durante o seu tempo, que atualmente é de uma hora, e é difícil, porque tenho muita história para contar.

2 – É possível ensinar o sucesso?

Oscar Schmidt – Claro que sim! Primeiro a pessoa tem que entender os cinco valores importantes, não vou nem colocar liderança aqui no meio, porque os outros são mais importantes a meu ver, que são o sonho, o treino, a obstinação, time e paixão.

Eu podia até colocar seis, porque liderança também é importante, mas nem tanto. Então é importante ensinar o sucesso, porque quem quiser aprender, vai aprender, e quem não quiser não vai virar nada.

3 – Em tempos de contratos esportivos milionários, você também ficou com o burro na sombra, ou acha que deveria ter ganhado mais com o esporte?

Oscar Schmidt – Tenho certeza de que se eu jogasse hoje eu ia ganhar muito dinheiro, mas ganhar muito dinheiro faz você se tornar preguiçoso, não pode ser assim, e esse tumor está me fazendo viver melhor.

Não pode ter medo, nós somos de carne e carne estraga, o ideal seria viver muito menos, estou com dor em uma perna, troca a perna, estou com dor na cabeça, troca a cabeça, só deixa o cérebro que é a parte mais importante. E eu tive um tumor no cérebro e é uma coisa dramática. Hoje eu chego para a Cris (esposa) e falo: “vamos pra Orlando?” Ela pergunta: “quando?” “Amanhã”. Aí eu ligo para todos os presidentes e CEO, desmarco todos os compromissos e passo lá dois meses, gastando dinheiro, o pouco que eu ganhei vou lá gastar. Aí, quando acaba, eu volto para o Brasil para fazer mais palestras e ganhar mais dinheiro. Isso tudo me ensinou a viver melhor.

4 – Nós passamos por eleições bastantes intensas e controversas, você já buscou cargos eletivos, como você vê esse cenário?

Oscar Schmidt – Eu queria mesmo era ser presidente do Brasil. Passei 13 anos na Europa pensando nessa possibilidade. Veio a oportunidade de ser candidato ao Senado e tive um sucesso tremendo, mas não entrei, ainda bem. Em 20 anos eu nunca me meti e nunca vou me meter, quem tem de verdade alguma coisa a perder, não se meta lá, porque vai respingar em você. Agora eu tenho uma grande esperança que com o novo governo brasileiro as coisas mudem. Espero que a gente ressurja das sombras, porque nós estamos metidos numa sombra tremenda e isso afeta até o meio de palestras. Espero que a gente saia dessa sombra.

5 – Seu irmão, Tadeu Schmidt, também ficou famoso, mas em outra área, no jornalismo. Você acha que levou sorte por ele não incluir os cavalinhos no basquete enquanto você estava em atuação?

Oscar Schmidt – Não dá audiência cavalinhos de basquete, tem que ser do futebol mesmo, mas ele já foi meu irmão, agora eu que sou irmão dele.

Saideira – Qual a visão diferenciada que um esportista pode trazer ao empresariado?

Oscar Schmidt – Toda. O bom do esporte é que o reflexo é imediato. Se você perdeu um negócio, imediatamente você tem jeito de recuperar, menos duas coisas para mim. Não tem vezes na minha vida em que eu não pense nesses dois episódios: um foi o arremesso contra a União Soviética, em uma Olimpíada, que nos tirou a chance de ganhar medalha. Penso naquele arremesso todos os dias; e o outro foi errar dois lances livres na semifinal do Campeonato Italiano, que também tirou a gente da final. Então eu penso sempre nesses desastres que aconteceram durante a minha carreira. As pessoas falam isso e aquilo, e eu penso que jogador bom não pode errar o último arremesso, o que aconteceu duas vezes na minha vida e eu não paro de pensar neles.

Eu ainda não me perdoei por perder uma medalha olímpica.

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