Mato Grosso

Câmara de Cuiabá: o dia em que ela mereceu o apelido de Casa dos Horrores

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Câmara de Cuiabá: o dia em que ela mereceu o apelido de Casa dos Horrores
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Há quase um ano, a Câmara de Vereadores de Cuiabá anunciou uma polêmica medida: notificaria todos os veículos de comunicação que utilizassem o termo “Casa dos Horrores” para se referir ao legislativo municipal. Os principais veículos de Cuiabá foram notificados, incluindo o LIVRE.

A medida foi de tal maneira antidemocrática e inconstitucional, que obviamente ninguém cumpriu. Ademais, na prática, pouca coisa foi feita para que a Câmara melhorasse a sua imagem perante a população.

O espetáculo encenado nesta semana fez jus ao apelido. Na sessão de quinta-feira (14), uma polêmica medida entrou na pauta de votação: a regulamentação e taxação do serviço de aplicativos de transportes, entre eles Uber e 99POP.

A Casa se tornou um verdadeiro ringue: de um lado das galerias, os taxistas; de outro, os motoristas de aplicativos e, dentro do ringue, os vereadores. Destaque para a imprensa, que assistiu atônita a todos os acontecimentos.

Não é de hoje que os parlamentares Renivaldo Nascimento (PSDB) e Abílio Junior (PSC) protagonizam discussões acaloradas, quase chegando às vias de fato – apesar das tentativas do presidente da Câmara, Misael Galvão, de tentar apaziguar os ânimos.

Na sessão de quinta-feira, os vereadores se excederam diversas vezes. Durante uma fala do colega Abílio, Renivaldo não teria gostado do simples fato de um assessor do deputado estadual Ulysses Moraes (DC) – que esteve na Casa de Leis para defesa da reprovação do projeto –  ter aplaudido o discurso.

Renivaldo então partiu para cima do profissional e Abílio tentou impedi-lo, sem sucesso. Foi aí que o parlamentar entrou pela porta que dá acesso à presidência da Casa e teria, segundo o deputado estadual, empurrado seu assessor. No entanto, as imagens não mostraram a parte final da confusão.

Com Abílio também não foi diferente. O parlamentar já é bastante conhecido por suas manifestações nada discretas, a exemplo da protagonizada durante a inauguração do Hospital Municipal de Cuiabá (HMC), no final do ano passado. Só que Abílio tem cada dia mais aumentado suas provocações aos desafetos e àqueles que não concordam com sua opinião.

Por votar contrariamente ao projeto de lei, Abílio chegou a provocar os taxistas – favoráveis à medida –, chegando a subir até a galeria de onde eles assistiam o “espetáculo”. Por pouco o parlamentar não foi agredido pelos profissionais, que também estavam com os ânimos exaltados. Taxistas vaiavam ou aplaudiam das galerias quando alguma colocação era feita na tribuna.

Vereadores de oposição pediram então que um representante dos motoristas de aplicativos fosse ouvido. O presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos (AMA), Kleber Campos, foi à tribuna. Mas teve seu discurso suspenso, já que Kleber acusou Abílio de votar contrariamente à medida não em defesa da classe, mas pelas divergências políticas que ele teria em relação ao prefeito Emanuel Pinheiro (MDB).

Em dado momento, o vereador Renivaldo chegou até mesmo a afirmar que a sessão tinha se tornado um “circo de horrores”. A cada discussão mais acalorada, jornalistas se espremiam entre o vidro que separa a sala de imprensa do plenário na tentativa do melhor ângulo para filmar aquilo que em palavras seria difícil de explicar ao leitor.

A cada fala de Renivaldo, Abílio levantava de seu lugar e se prostrava na frente do colega de câmara, fazendo provocações. Ao passar por Renivaldo, Abílio portava um tablet no qual o parlamentar tentou mostrar algo ao colega. Foi quando Renivaldo desferiu um soco, que pegou no equipamento que por pouco não caiu no chão.

(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Cinco horas de sessão. Pausas, interrupções, prorrogações, bate-bocas, segurança em alerta e acionamento da Polícia Militar (PM). Tudo isso fez com que a votação se tornasse redundante. Por fim, a votação teve início. Primeiro a parte que institui a tributação dos motoristas de aplicativos: 13 votos favoráveis e 8 contrários. E por fim, a aprovação do projeto: 17 favoráveis e 5 contra.

Ainda em meio ao caos, teve parlamentar que entendeu que as decisões que impactam diretamente na vida da população não podem ser levadas para o campo pessoal. Foi o caso de Toninho de Souza (PSD), que enfrentou uma das provocações de Abílio e, ao invés de se exaltar, preferiu dar um abraço no colega de parlamento.

A postura dos vereadores de oposição Felipe Wellaton (PV) e Diego Guimarães (PP) também foi exemplo de como o debate de ideias e a política pode ser feita dando voz a todos, sem precisar tornar uma câmara de representantes legais da população em um ringue de luta. Ponto para uns, vergonha para outros e benefício zero para a população cuiabana.

(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

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