Arte na pele na Hellcity: conheça os estúdios de tatuagem que conquistam Cuiabá

Traço fino ou grosso? Old school, aquarela, realismo ou blackwork? Trabalho comercial ou autoral? Em Cuiabá, o cenário da tatuagem se diversifica e a quantidade de profissionais cresce de acordo com a demanda. Muita gente nova na área, mulherada ocupando o espaço e veteranos se reinventando na cena. A movimentação na cidade fortalece a cultura milenar e o resultado é um público cada vez mais exigente e antenado.

Para você que flerta com a arte na pele, mas está na dúvida de onde e com quem ser riscado, a reportagem do LIVRE visitou alguns estúdios recomendados na cidade e foi conferir o que tem de bom em cada um. Uma coisa é certa: opção não falta!

Tattoo Gallery

A Tattoo Gallery é a primeira galeria só de tatuagens de Cuiabá, formada hoje por quatro profissionais. “Todos aqui fazem tudo bem, desenham e pintam, mas cada um tem o estilo que gosta mais de fazer”, explica Jean Siqueira, tatuador que começou o negócio há três anos e realizou as primeiras conferências e eventos de flash tattoo na cidade. Atendem com ele os tatuadores Lagarto e Neto.

O tatuador já veterano vive da arte na pele há treze anos. Ele é especialista na tatuagem preta e cinza realista e nas escritas com referência na cultura urbana e religiosa. “É uma pegada de letra de gangue e letras de pixo, é um tipo de tatuagem com uma pegada latina, mas que surgiu nos presídios de Los Angeles”, explica sobre suas referências no trabalho do tatuador Mister Catoon.

Lagarto tatua há cinco anos e atende na Tattoo Galery há um ano, quando passou a se dedicar exclusivamente à arte na pele. “A gente que tirou o Lagarto do trampo”, brinca Jean. O tatuador também faz realismo, procurando sempre incorporar elementos da cultura brasileira em um estilo já tradicional no mundo.

Já Neto está no ramo há seis anos e trabalha no estúdio há dois. Ele faz desde tatuagem neo trad, um old school mais moderno, a trabalhos preto e cinza. “A old school tem uma limitação de cores primárias mais chapadas, já o neo trad também tem os contornos mais grossos por fora e linhas finas nos detalhes, dá para misturar com realismo também”, explica Neto.

Os tatuadores afirmam que o preço de uma tatuagem é relativo, calculado pelo trabalho que o artista terá com o desenho. O tamanho não é necessariamente o principal fator. “Às vezes pode ser uma tatuagem pequena com muito detalhe que vai custar mais”, explica Jean.

O local também interfere na dificuldade. Desenhar na costela, atrás da orelha, no rosto, nas mãos e dedos são mais demorados. “O profissional e o cliente não tem muito apoio, a pigmentação precisa de reforço e mais paciência”, explicam.

Avenida Tenente Coronel Duarte, 35
Mais informações: (65) 3365-5513 / @tattoogallerycuiaba

Edson Tattoo

Dos doze anos trabalhando com arte na pele, o veterano Edson Ferreira já tem dez anos no estúdio que atualmente divide com a jovem Cecília Junqueira, na Rua Candido Mariano. Dois gêneros e duas gerações de tatuadores que dividem o espaço na harmonia da diversidade.

Edson sempre trabalhou com design e surgiu no cenário da tatuagem inspirado pela prática do grafite de rua e da pirografia. Quando começou a tatuar, ainda haviam poucos profissionais na cidade. Hoje ele vê um cenário muito mais amplo e um público mais exigente que já começa a entender melhor as diferenças do trabalho comercial e autoral, além das diferenças de estilo.

“Antigamente existiam catálogos nos estúdios e o pessoal tinha que escolher entre aqueles desenhos que estavam ali” e completa: “Se você levasse um trabalho no estúdio e ficasse 30%, o resultado já era o melhor”. Para ele, essa qualificação do profissional da tatuagem e do próprio público é consequência de um maior acesso à informação.

O tatuador trabalha com diversos estilos e é quem mais atende as demandas comerciais, mas gosta de fazer trabalhos no estilo oriental e preto e cinza. Ele afirma que quem mais faz trabalhos autorais no estúdio é Cecília, que nessa nova leva de tatuadores, começou a atuar há um ano e já possui um público cativo, principalmente feminino.

Cecília é formada em arquitetura, área que facilitou a entrada no ramo, assim como os estudos em História da Arte. “Me ajudou na noção de textura, linha e me ensinou a hierarquia das agulhas. Acabou que a arquitetura virou hoobie e a tatuagem profissão”. Cecília conta que aprendeu a tatuar no estúdio onde já trabalhava com piercing e da observação partiu logo para a prática na pele humana.

A artista se identifica com a tatuagem old school e o blackwork europeu, estilo que utiliza técnicas como o pontilhismo, a rachura e geometria. Seus trabalhos são voltados para botânica e ela conta que também gosta de desenhar armas medievais. “Plantas e animas são a minha paixão”, completa.

Rua Cândido Mariano, 728
Mais informações: (65) 3054-2756 / @ceciliajunqueira

Eliz Haddad Tattoo

Eliz Haddad é uma tatuadora diversificada, mas conhecida pelas suas aquarelas na pele. Referência para muitas mulheres que entram para o cenário em Cuiabá, ela tatua há sete anos e vive exclusivamente do trabalho com tatuagem há quatro.

A artista sempre esteve envolvida com criação, trabalhava com artesanato na adolescência e nunca parou de desenhar. Ela começou no processo de transição entre os estudos em química para a moda e quando abriu o primeiro estúdio, se surpreendeu com o sucesso. “Eu encontrei um lugar no bairro Petrópolis, perto da UFMT, então a galera da universidade colava lá e o negócio foi crescendo de uma forma inesperada”.

Eliz é muito procurada para fazer trabalhos coloridos, como as aquarelas, técnica que não envolve contorno. Mas ela acredita que na realidade local, o trabalho do tatuador também é resultado da demanda da região. Por isso também faz muita tatuagem blackwork, mas afirma ser trabalhos muito diferentes, fator considerável no momento de escolha.

Fazendo de tudo um pouco, a tatuadora percebe preconceitos quando o assunto é o estilo de trabalho de homens e mulheres. “Quando eu faço um tipo de trabalho que as pessoas acreditam que mulheres não fazem, como o realismo e o preto e cinza, a pergunta é sempre quem é o tatuador”, conta ela.

Desde que começou, ela vem estudando diversos estilos e conta que seu trabalho vai mudando com o tempo. “A ideia é continuar mudando sempre, eu costumo falar que o dia que você achar que seu trabalho está perfeito você pode parar”.

Avenida Tenente Eulálio Guerra, Araés
Mais informações: (65) 99949-9305 / @elizhaddad_tattoo

Cry Baby

Um novo estúdio na Marechal Deodoro conta com tatuadores que trabalham com dois dos estilos de tatuagem mais procurados atualmente. O espaço vem chamando a atenção de quem passa pela avenida por seguir uma tendência comum aos grandes centros de unir tatuagem, piercing e barbearia em um único estabelecimento. Atendem no local os tatuadores Luís Galdi e Dark Jordão e o barbeiro Hudson Sloboda.

Luis Galdi é especialista no trabalho tradicional, característico pelas linhas marcadas e os estilos old school, tribal e maori. “Eu sempre gostei de tatuar old school, mesmo sem saber que era um estilo”. Quando passou de cliente a profissional, em 2013, a preferência foi natural e hoje este é tipo de trabalho pelo qual o tatuador é muito procurado.

Dark Jordão é conhecido pelo trabalho black work e seus desenhos autorais.Plantas, animais, cobras e insetos são elementos frequentes em seu trabalho. Dark já ilustrava e trabalhava com criação na música e publicidade, a arte na pele veio há três anos como resultado da criatividade. “Eu tento sempre convencer o cliente a fazer um trabalho exclusivo. Muita gente chega com algum desenho, mas sem muita ideia, e quando a gente começa a conversar sempre chegamos a uma arte melhor”, explica.

Há apenas três meses, a barbearia somou ao estúdio e hoje dá ainda mais visibilidade ao trabalho dos amigos, oferecendo hidratação, corte de cabelo masculino, celagem e barboterapia. Hudson foi quem levou os serviços para o local, após se especializar na área. “Sempre tivemos essa ideia de trazer algo diferente com simplicidade e a mais alta qualidade possível”, afirma.

Avenida Marechal Deodoro, 1033
Mais informações: (65) 9963-2023 / @dkjordao @luisgaldi

Às de Ouro

Há cerca de nove meses, Cuiabá tem um estúdio de tatuagem exclusivamente autoral que conta com o trabalho de três artistas diferentes, mas que seguem a mesma linha: o blackwork e a fine-line – desenhos somente na cor preta e linha fina. O Às de Ouro é o estúdio da Hiasmyn Lorraynne, que divide espaço com os amigos Juliana Fernandez e Hugo Alberto.

A jovem empreendedora trabalha com ilustração há quase quatro anos e há um ano e meio com tatuagem. Ela entrou no ramo ao ver na pele um meio de expressar sua arte, uma tendência entre muitos artistas conterrâneos.

“Há dez anos atrás você não precisava necessariamente desenhar para ser um tatuador e hoje muita gente que desenha resolveu tatuar. É outra forma de pensar o trabalho”, conta Hyasmin e afirma que hoje é mais difícil viver da ilustração em papel do que de tatuagem. “A gente vende bem menos quadros do que tatua”.

Ela, assim como os parceiros, segue uma estética nova no ramo, desenhos pequenos e temáticas pop, com destaque para a botânica e desenhos geométricos. “Quando a gente fala de estilo, hoje é tudo muito diferente. Essa nova geração de tatuadores ainda não conseguiu ser classificada dentro de um só estilo”, afirma.

Juliana Fernandez, conhecida como Nana, conta que a diferença entre os três trabalhos está na temática. Hiasmyn faz tatuagens Girl Gang com elementos que remetem a magia e mistério, como bruxinhas, ervas, plantas e flores. Já Hugo, ilustrador também novato na tatuagem, cria desenhos minimalistas, com linhas simples e orgânicas, poemas visuais, insetos e cadeiras.

Já Nana é inspirada pelas mulheres latinas do Centro-Oeste e as representa de diferentes formas, geralmente acompanhadas de elementos que remetem à natureza e a vida no Cerrado. Gatinhos, capivaras e personagens de animação também são recorrentes em seus trabalhos. “Nossos clientes possuem tatuagens únicas, que ninguém mais tem”, afirma.

Rua Comandante Costa, 381 (Metade Cheio)
Mais informações: (65) 3027-3896 / @asdeouroestudio

Tanji Tattoo

O amor e a arte uniram dois tatuadores em um estúdio charmoso e caseiro no bairro Recanto dos Pássaros. Tahiza Tanji e Andrey Oliveira se conheceram em março de 2016 – ele tinha pouco tempo de tatuagem e ela já estava no ramo há quase dez anos. Cada um com um filho batalhando para pagar as contas, Andrey decidiu deixar o antigo emprego para viver das suas paixões com Tanji, onde moram e trabalham.

Tanji é de Várzea Grande, mas começou a tatuar no Japão, onde viveu durante onze anos. Lá, os estilos oriental e maori predominam e influenciam seu trabalho, mas aqui ela diversifica e também faz de tudo, assim como Andrey, de acordo com a demanda. “No Brasil as pessoas tatuam coisas mais pequenas e nomes, agora que está começando a diversificar”, explica. A tatuadora também é conhecida pelo traço fino.

“Estou me descobrindo na aquarela”, conta Andrey que também faz blackwork há pouco mais de um ano, estilo que acredita ser o melhor para começar. “Comecei a evoluir mesmo quando eu conheci a Tanji, passei a vivenciar e a respirar tatuagem aqui”, conta Andrey.

Os dois tem trabalhos autorais e também fazem reproduções. Eles contam que o preço de ambos é relativo, mas o critério é a dificuldade que varia de cada um. Para o fim de ano, estão com promoção de desenhos pequenos e autorais a R$100.

Além de tatuagem, o casal também faz aplicação de piercing, vende a joia, artefatos e artesanatos diversos. “A gente tenta oferecer para a galera o que a gente gosta”.

Rua 8, Recanto dos Pássaros
Mais informações: (65) 99981-9760 / @tanjitattoo

Peralta Tattoo

Uma nova tatuadora vem se revelando no cenário da tatuagem em Cuiabá há cerca de quatro meses. Rayza Peralta surge no mercado para atender a demanda de pessoas que procuram desenhos mais delicados, com foco no público feminino. A artista trabalha somente com linhas finas e pretas, seguindo a tendência da união entre estas duas características. “Hoje o black work está bem casado com a fine-line”, explica.

Rayza sempre gostou de arte e já era desenhista e chargista, mas sempre quis ser tatuadora. Largou a faculdade de biomedicina para se dedicar exclusivamente à tatuagem, atendendo em casa. Hoje seu trabalho na pele é bem diferente do papel, ilustrações com características mais realistas.

A artista abriu o Peralta Tattoo no Salão Cenários Coiffeur há dois meses, procurando um espaço que fosse referência para mulheres na cidade. “Abrir um estúdio sozinha é bem complicado, então eu pensei: preciso de uma base feminina e uma base estrutural”.

A maioria de seus desenhos são autorais com florais, mulheres e pássaros, e tem feito muitos trabalhos em locais escondidos. Ela conta que seus preços são mais baixos, devido a pouca quantidade de material que utiliza. A artista cobra pelo valor do processo de criação que acredita estar sendo cada vez mais valorizado. “Hoje as pessoas estão tendo uma visão de arte, antigamente a tatuagem era um trabalho muito marginalizado”.

Rua Botafogo, 205 – Jardim Guanabara  (Salão Cenários Coiffeur)
Mais informações: (65) 9276-5036 / fb/peraltastattoo