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A triste geração das cabeças baixas

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A triste geração das cabeças baixas

Não, não são cabeças baixas no sentido de obediência. Na verdade, eles nem ouvem o que dizemos. Estão de tal forma absortos em seus celulares e iPads, que não se dão ao luxo de ouvir nossos comandos.

Estou falando dessa geração de crianças e adolescentes que nasceu em um mundo digital. Falo do meu filho, do seu, dos nossos pequenos viciados em tecnologia.

Se quiser comprovar o que digo, experimente observar o recreio ou a saída de uma escola que permite o uso de eletrônicos nos intervalos. Verá todos olhando para baixo, sem interação com colegas, cada um envolvido na sua própria realidade virtual.

Pois esta semana foi a hora da mudança aqui em casa. Por causa de alguns problemas na escola, radicalizei: tirei todos os eletrônicos do meu filho por uma semana. Celular, IPad, televisão, tudo entrou no pacote.

E qual foi a surpresa?

Foi a melhor semana que tivemos nos últimos anos. Voltamos a conversar. Ele voltou a visitar a casa do tio, nosso vizinho de frente. Voltou a interagir com os primos. Voltou a fazer parte do mundo real.

A conversa mais bacana que tivemos foi sobre pessoas inspiradoras. Lendo com ele, para um trabalho da escola, o livro de Malala, a adolescente que levou 3 tiros do Talibã por frequentar uma escola sendo menina, pudemos falar sobre sua determinação, de como ela era madura e consciente de seu objetivo de lutar pela educação das mulheres num país tão retrógrado quanto o Paquistão.

Também por causa da escola, falamos sobre Donald Trump e até sobre o FMI. Meu Deus, meu filho, que desaprendera a conversar, estava dialogando novamente. Ele, que não se comunicava mais comigo na volta da escola, após o jantar, nos fins de semana. Ele voltou a falar!

Não tive dúvida.

De agora em diante, eletrônicos, inclusive celular, serão limitados a uma hora por dia durante a semana. No final de semana, serei mais flexível. Não será uma batalha fácil, mas não hesitarei em mudar de ideia se perceber que está viciado novamente.

Não podemos perder nossos filhos para os eletrônicos. Não devemos achar que é normal ele ficar mais tempo jogando do que conversando conosco.

Não. Está errado. Vamos trazê-los de volta ao real. Ao mundo das conversas, das relações humanas.

Não podemos nos conformar em dizer que essa é a triste geração das cabeças baixas. A triste geração que desaprendeu a conversar.

Limite os eletrônicos, radicalize. Faça uma experiência. Estou fazendo a minha e, daqui a algum tempo, vou contar aqui se deu certo.

Não acho que descobri a fórmula para criar nossos filhos, mas pode ser um começo. Quem sabe?

Assinatura Debora Nunes

 

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